'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






16/07/2009

09/07/2009

Parte II (continuação)

E com companheira (e com movimentos reflexos, despidos de algo mais que o tacto, desacompanhados pelo palpitar apressado da paixão)

me mantenho – entre a sua pele desrugada e o seu corpo imberbe que me infligem um sentimento de invasão, incorrecção, deslocação – na descrença esperançosa de que um acto com a magnitude trágica do Amor me atordoasse de sentimento e ciúme, auspiciando o próximo acto seu!

Que me atordoasse como…
como o próximo momento em que a visse, no passeio do outro lado, nem que fosse num lampejo – que uma indolência irreflectida não permitiu tornar-se num olhar prolongado, venerado – mas que helenizou a finada rua com uma luz bruxuleante que me sombreava os passos tremeluzentes, enlevados pela descarga de pesar que refutava intensamente aquilo de que me convenci, anos atrás.

Ah que cor! – mistura doces tons de amarelos com o dourado divino –, que caminhar, que flutuantes movimentos a deslocam!
Mas o segredo da minha veneração esconde-se na forma como reflecte a luz. Qualquer tipo de iluminação. Delacroix vergar-se-ia; Sir Edward John Poynter venerá-la-ia; eu estranho-a.

E retorno sempre, desbotado, ao recanto confortavelmente inerte onde a viveza primitiva se desvaneceu, e lá me demoro, embaído com rotinas, companheiras e carícias brandas, quietações e canabiáceas várias…

embora raramente, (com o sobressalto da morte súbita!), me veja atiçado ao devaneio meigo e meloso dum sentir conturbado, ao ler no telemóvel a sua braquigrafia infantil no formato de sms… adormecendo mais tarde, arrebatado de tanto sentir, com os dedos lânguidos tocando o ameno ecrã, e a imaginação fecunda percorrendo os trilhos frugais do seu terno aroma.

03/07/2009

'Se tu és dono dela e ela é dona de ti
Se tens vergonha dela e ela também de ti
Então és dono dela e ela é dona de ti

E cada amigo dela faz nascer o mal que há em ti

Se tens vergonha do que fazem só os dois
Se tens vergonha do que fazem só os dois
De cada amigo dela vem-te o medo que a façam depois

Se o que tu queres dela ela te diz que é só de ti
Se o que tu queres dela ela te diz que é só de ti
Então o que ela quer tu crês que também podes querer para ti'

B-Fachada - O Ciúme e a Vergonha
http://www.myspace.com/bfachada