'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






29/05/2009

'O kitsch contemporâneo é uma das grandes invenções da pátria. Podíamos exportá-lo se valesse alguma coisa nos mercados internacionais. (...)
Parecemos todos personagens de Gogol, que agora faz anos e que escreveu sobre isto no modo desbocado e genial que lhe conhecem os que o leram. Gogol não escreveu apenas sobre a Rússia, nem sobre os funcionários e burocratas da Rússia. Nem satirizou o governo, nem inventou o realismo, nem tentou reescrever uma "Divina Comédia" completando unicamente o Inferno com Almas Mortas. (...) Gogol foi o autor que melhor retratou essas manifestações do espírito humano reconduzidas a uma palavra que podemos chamar em português "vulgaridade" e que em russo toma o nome de pochlost. Uma espécie de kitsch parecido com o sentido histórico enunciado por Milan Kundera. Seres bizarros iguais a todos nós movem-se, comem e dormem, pensam e circulam na monotonia do pochlost.
Tradução adjectiva: barato, factício, banal, desenxabido, pomposo, de mau gosto; ou inferior, desprezível, pechisbeque, vil, lantejoula, de pacotilha. Como diz Nabokov, este é um mundo de falsos valores que podemos detectar sem precisar de uma especial sagacidade.
(...)
Recoberto pela vulgaridade da "emoção", o pochlost esconde a realidade com o manto diáfano da fantasia. A realidade e a verdade não interessam. Nem são rentáveis. Sobejam o sentimento e a indignação, que cativam o vulgo profano. A falta que nos faz um lúcido descendente de Eça de Queiroz que detecte e descreva esta gente.'

28/05/2009

Siegfried Sassoon - Suicide in the Trenches (1918)

'E um profundo e tediento desdém por todos quantos trabalham para a humanidade, por todos quantos se batem pela pátria e dão a sua vida para que a civilização continue...

...um desdém cheio de tédio por eles, que desconhecem que a única realidade para cada um é a sua própria alma, e o resto - o mundo exterior e os outros - um pesadelo inestético, como um resultado nos sonhos de uma indigestão de espírito.

A minha aversão pelo esforço excita-se até ao horror quase gesticulante perante todas as formas de esforço violento. E a guerra, o trabalho produtivo e enérgico, o auxílio aos outros... tudo isto não me parece mais do que o produto de um impudor,

e perante a realidade suprema da minha alma, tudo o que é útil e exterior me sabe a frívolo e trivial ante a soberana e pura grandeza dos meus mais originais e frequentes sonhos. Esses, para mim, são mais reais.'


Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa

27/05/2009

16/05/2009




'Ontem eu vi um tipo na Avenida,
Depois da bebida,
Perdeu-se em Lisboa.
Ontem, mas bem no centro da cidade,
Bateu-lhe a saudade,
O homem chorava Angola...
Dizia: Táxi, Táxi, vai me leva p'ra Luanda,
Faz buéda tempo que eu não vejo a minha banda
Táxi, Táxi, quero ver minhas praias
Nas pedras da ilha zambóia e takaya'





'Remember, remember the 5th of November,
The Gunpowder Treason and Plot,
I know of no reason
Why the Gunpowder Treason
Should ever be forgot.

Guy Fawkes, Guy Fawkes, t'was his intent
To blow up the King and Parli'ment.
Three-score barrels of powder below
To prove old England's overthrow;

By God's mercy he was catch'd.
With a dark lantern and burning match.
Holloa boys, holloa boys, let the bells ring.
Holloa boys, holloa boys, God save the King!'

14/05/2009

06/05/2009

Duma magreza pomposa, descarnação de quem não vive para comer. Desavergonhada anorexia! – Ufana anoréctica passeando a sua opulenta escassez por entre os prostrados do alimento. Se soubesse como me seduz o cuidado por entre os grandes rabos e mamas dessa praia da vulgaridade.

– ‘A Perestrelo está com um bronze… Olha aquele biquíni!’.

E eu – tolo desalinhado, entre o céu e a duna, a mortalha e a sopa, envolvido por amigos que fazem filtros e despretensiosos comentários – não vejo a Perestrelo, nem as mamas uns metros abaixo, nem as coxas de ginásio da amiga da namorada do amigo; apenas me deixo cuidar pelo atrevimento dessa magreza no país dos enchidos e do cozido à portuguesa, pelo descabimento da brancura num país de sol, pelo pejo desse riso num país tão grosseiro, pelo andar distraído no país das aparências…

Duma brancura enferma, mas casta. Jactanciosa palidez! Ostenta-a por entre as reproduções aborígenes na trivialidade desse bar onde reina a congeneração e a resignação do que é e ao que é plebeu (a ordinariedade é circular como um calendário, monótona como as conversas suburbanas, contagiosa como a varicela num teatro cheio de miúdos).

Caminha vagarosa e majestática por entre a desatenção geral. Mas a minha está bem presa pelo freio, com as rédeas da soberba, por tudo o que não é saboreado pela boca insulsa, insípida das massas dissaboridas.

Pudera,

– não fosse o embaraço que os actuais laços já me trazem, e a inegável imaturidade para algo mais –

apreciá-la-ia sentado na cama onde dormia, deleitando-me da mesma forma como me deleitaria, assombrado de devoção, ao ver a minha rosa dormir – não fosse a sujidade da idade e a conspurcação do tempo –; e desenhá-la-ia, pintá-la-ia como Otto Dix; esculpi-la-ia como Rodin; dedicar-lhe-ia odes e poemas que falassem de azuis profundos, mitologias bíblicas, chuvas funestas; escrever-lhe-ia uma tragédia onde fosse Naiáde e Nereida, Afrodite e Alcmena… Para apenas reviver, desfalecendo, aquela ténue (e tremendamente volúvel) sensação que nos seda da pungente dor inalienável à vida e da molesta monotonia que nos tempera os dias malquistados – distracção tão imerecida como a Arte – mas que é crime da nossa classe, fulgor deste vanguardismo helénico, indumentado por uma languidez overdósica e adornado pela divagação tão fértil quão absurda, infamemente oprobriosa por jamais saciada.

05/05/2009

Maria Luís Serras Pereira, muy ilustre descendente de Nuno Álvares Pereira, Santo Condestável --- 01:26

http://tv1.rtp.pt/noticias/?headline=20&visual=9&tm=6&t=O-principal-accionista-do-BPP-receia-a-liquidacao-do-Banco.rtp&article=217871

01/05/2009


In the cold, coldest of nights
The fire I light, to warm my bones
I've had enough, of the dreadful cold
And from the flames, appears Salome

I stand before her amazed
As she dances and demands
The head of John The Baptist on a plate

In the morning, shaken and disturbed
From under soft white fur
I see the dust in the morning bright sets the room alive
And by the telly appears Salome

I stand before her amazed
As she dances and demands
The head of Isidora Duncan on a plate
Oh, It's Salome
Oh, It's Salome

In the cold, coldest of nights
The fire I light, to warm my bones
I've had enough, of the dreadful cold
And from the flames appears Salome

I stand before her amazed
As she dances and demands
The head of any bastard on a plate