'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






24/12/2008

'and so this is Christmas...'


'Dói-me a cabeça e o Universo.'

18/12/2008

'(...) pretend you never went to school...'


She came from Greece she had a thirst for knowledge,
she studied sculpture at Saint Martin's College,
that's where I caught her eye.
She told me that her Dad was loaded,
I said "In that case I'll have a rum and coca-cola".
She said "Fine."
And in thirty seconds time she said:
"I want to live like common people,
I want to do whatever common people do,
I want to sleep with common people,
I want to sleep with common people,like you."
Well what else could I do?
I said: "I'll see what I can do."

I took her to a supermarket,
I don't know why but I had to start it somewhere,
so it started there.
I said: "Pretend you've got no money",
She just laughed and said: "Oh you're so funny!"
I said "Yeah?... Well I can't see anyone else smiling in here."
"Are you sure you want to live like common people,
you want to see whatever common people see,
you want to sleep with common people,
you want to sleep with common people, like me?"
But she didn't understand, she just smiled and held my hand.

Rent a flat above a shop,
Cut your hair and get a job,
Smoke some fags and play some pool,
Pretend you never went to school!
But still you'll never get it right,
Cause when you're laid in bed at night,
Watching roaches climb the wall,
If you call your Dad he could stop it all!

You'll never live like common people,
you'll never do what common people do,
you'll never fail like common people,
you'll never watch your life slide out of view,
and dance and drink and screw,
because there's nothing else to do.

Sing along with the common people,
sing along and it might just get you through,
laugh along with the common people,
laugh along even though they're laughing at you,
and the stupid things that you do,
because you think that poor is cool.

Like a dog lying in a corner
They will bite you and never warn you
"Look out!"

They'll tear your insides out
Cause everybody hates a tourist
Especially one who thinks it's all such a laugh
Yeah and the chip stain and grease will come out in the bath

You will never understand
How it feels to live your life
With no meaning or control
And with nowhere left to go.
You are amazed that they exist
And they burn so bright whilst you can only wonder why

Rent a flat above a shop,
Cut your hair and get a job,
Smoke some fags and play some pool,
Pretend you never went to school!
But still you'll never get it right
Cause when you're laid in bed at night
Watching roaches climb the wall
If you called your Dad he could stop it all, Yeah!

Never live like common people
Never do what common people do
Never fail like common people
Never watch your life .... slide out of view


And then dance, and drink, .... and screw
Because there's nothing else to do

I want to live with common people like you!

09/12/2008

...fool me twice, shame on you!

Longue vie à la bourgeoisie!’, bradou insolentemente Philipe Chesterfield em período convulso da história gaulesa, onde de entre a agitação social emergiam a passo os primeiríssimos traços duma esquerda totalitária, apropriadora, abolidora da propriedade. Chesterfield era uma peculiar figura da época: o francês mais britânico de França. Descendente da pequena burguesia de comércio, atingiu o restrito circuito da grande burguesia de capitais, tendo cultivado e mantido ao longo da vida os hábitos do país do qual o mar o separava. Bebia brandy em copos largos, fumava cachimbo, tomava sempre o chá das cinco e mandava os criados estrearem-lhe os fatos.

O que distingue Chesterfield do messiânico Obama? Este último surge como a grande salvação mundial, depois da maior diabolização da História feita a George W. Bush, por parte dos media, dos chefes de estado mundiais e, em última análise, por nós, o senso comum, mediante a consciencialização global da expiação de todos os males neste (conveniente) bode. Mas o que Bush representava eram os lobbies (do petróleo, do capitalismo selvagem, do grande capital), e como homem mediano que é, mais não soube fazer do que ser comandado por eles. O grau de desculpabilidade relativo a Bush será sempre, por força da sua inafastável mediocridade, infinitamente superior ao de Barack Obama, este oriundo das elites intelectuais norte-americanas, 44º presidente a quem é incutida a porventura mais difícil tarefa da breve história desse país: a constituição de um Estado Social de Direito. Menos não é admitido a uma democracia moderna e, agravadamente, a um presidente instruído com a formação de jurista em Harvard.

Mas no país mais rural do mundo, o povo massificado, gerador duma sociedade massificante (a insistência no termo é intencional uma vez que é a característica mais alienante a nível socio-cultural, no meu entendimento, por aniquilar a individualidade do ser), não permitirá nunca a inclusão de certos pilares sociais, pela etimológica aversão ignorante que guardam ao socialismo. A verdade é que este povo puritano e inepto não sabe distinguir a conotação estalinista do termo, obsoleta e enterradíssima (excepto na anedótica Cuba e na insignificante Albânia), da assepção europeísta, com carácter humanitário, onde o mercado continua a prevalecer embora com limites mínimos e óbvios, e da qual são corolários impreteríveis a acesso à Saúde, à Educação e à Segurança, e o combate aos efeitos mais flagrantes da pobreza. Já nada tem a ver com as concepções de Marx e Engels mas tão somente com solidariedade. Logo, só por força da mentecaptização do povo americano podem ser explicadas as caricatas e grotescas escolhas de Obama: Hillary Clinton para Secretária de Estado (que votou a favor da guerra no Iraque e que se demonstra ferozmente anti-iraniana), Timothy Geithner para o Tesouro, (um neoconservador que, como tal, rejeita toda e qualquer intervenção do Estado no mercado), Ralph Emannuel para Chefe de Gabinete (um extremista do proteccionismo do comércio e indústria norte-americanas, até agora tem cumprido o seu expediente na NAFTA), e Robert Gates, Secretário da Defesa da Administração Bush que Obama vai manter. O que o povo não percebe é que Obama acabou de nos bradar: ‘Longue Vie à la Grand Bourgeoisie, à concentração do capital e às multinacionais!’.

Parecem assim cada vez mais distantes as promessas de mudança (internas e externas) com que Obama inflamou os corações da ‘criadagem’, já amolecidos pela cor do candidato. Quanto a mim, mantenho-me céptico, no mesmo sítio onde me surgiu o desabafo que, umas horas depois, descarreguei no portátil: nesta fundação de madeira que irrompe pelo areal deserto do inverno, com a neblina da manhã a afastar os inconvenientes e massificados (lá está) veraneantes, com o meu sumo natural, os meus croissants e o meu jornal pela frente. Mas isso sou só eu, que odeio massas e integracionismos, euforias e soluções fáceis, e prefiro manter-me distante e frio, segregado do senso-comum, dissidente nos gostos e pensamento.

04/12/2008

Manifesto Autoscópico

O intelectual distingue-se pelo humor. Subtil, sarcástico, pretensioso. Frequentemente cínico. Distingue-se pela curiosidade e não pelo conhecimento – esse falacioso, facilmente adquirido por quem tenha tempo e móbil. Verbi gratia, um técnico de frio é certamente altamente qualificado em ares condicionados, um jurista em Direito, um talhante em carne, um médico em patologias, um psicólogo em comportamentalismo. Mas tal conhecimento na sua área e porventura noutras do seu interesse não os eleva ao estatuto do intelectualismo. Esse carrega o castigo da curiosidade. Ora alguém excepcionalmente curioso preencherá sempre as lacunas do que ainda não domina com a imaginação, com infinitas resoluções hipotéticas para o dilema com que se depara. Daí Einstein ter defendido que a imaginação é mais importante que o conhecimento, pois este é limitado, e a imaginação abarca o mundo.

Foi Auden que disse que ser-se livre (leia-se espiritualmente livre) é, com frequência, estar-se sozinho. Mas eu não quero subscrever as crenças de Vergílio Ferreira quando afirma que o destino do artista é o exílio; porém tenho que admitir que lhe parece obedecer como a um estranho mandato. Nada o intelectual deve trazer à rua; mesmo a sua vaidade é insignificante. E vive isolado porque é difícil acompanhá-lo, sendo o preço demasiado alto - quem caminhar a seu lado está condenado à ilimitude da condescendência. Mas é inevitável, no acatamento de uma condição, lembrar a ironia fatidicamente realista de Oscar Wilde, de que só há, na verdade, dois tipos de pessoas verdadeiramente fascinantes: as que sabem absolutamente de tudo, e as que não sabem rigorosamente nada.

Sinto tanto; penso demais. De forma que às vezes nem sei se o senti ou pensei, e o que senti e o que pensei. Foi pela convulsão de sentir e pensar e viver, que atingi a autoscopia, esgotante delírio de fuga minha a mim próprio, tendo chegado a juízo do que nunca julgarei. Assim sendo, é heteronimamente que te falo de seguida.

Agora ouves pretensiosamente Nick Cave e ostentas no metro os livros chatos que finges ler nos cafés. Os óculos deixaram de te diminuir e hoje usa-los às vezes como estilo pessoal. Passaste a fase dos nerds e dos radicais e da auto-afirmação. Aparentemente, a pirâmide social já não te empolga. Porque pensas que és tão melhor que os outros, e já fizeste tudo o que eles fazem, e já atingiste tudo o que procuram. Já mais nada aquele mundo tem para te oferecer que não tenhas conseguido. Os teus amigos parecem-te todos iguais, a andar em círculos ano após ano. As ambições dos que te rodeiam são, simplesmente, provincianas. Os seus sonhos tacanhos. Desististe de emendar os traços simplistas dos demais, e noto que falas cada vez menos. Até o dinheiro (!) te parece mais pequeno que outrora. Vejo-te a olhar para o visual cinzento e indiferente de Jarvis Cocker da mesma forma que olhavas há anos atrás para o Sean Virtue.

Ah!... que pessoa detestável é que acha que os ingleses – povo tenebrosamente frio – são paradigma para tudo? (quando gostas de algo, gostas tanto que me enjoa – estou farto de ti!). A polidez, a sobriedade e o corte das roupas, o tom altivo, a resposta displicente, o trato entre as pessoas, o cinismo. Adoras blazers e tweeds e berloques e botões-de-punho. No teu entendimento obsessivo, qualquer conterrâneo teu se veste mal. ‘Nem tanto à terra, nem tanto ao mar’, dizes - com o sarcasmo alteando-te os lábios, e esse acento arrogante que não sabes esconder - utilizando condescendentemente um ditado popular – que tanto odeias! - (como se Sua Divindade falasse com a gente vulgar na sua linguagem), para criticar aqueles que usam os fatos impecavelmente assentes, estaticamente empertigados e saloisticamente vaidosos, ou os que abusaram do negligé, demasiadamente relaxados e consequentemente sujos. Naturalmente, só tu és dono do meio-termo.

Tens o transtorno do filho único? Gira tudo em teu redor: os pais, os amigos, as de género oposto que minimalista e redutoramente designas por ‘gatas’, os colegas, o trabalho… se alguém te sorriu, cortês, é porque lhe fizeste valer o dia. Qualquer acto teu para com os outros é uma concessão. Adoras os outros enquanto lhes permites o benefício supremo da tua simpatia indulgente. Adora-los enquanto te veneram, reverentes. És narcisista e querias-te multiplicar num espelho! (Isso parece-me mais transviante do ponto de vista sexual do que mero egocentrismo absurdo). És obcecado pela vida saudável; quererás viver para sempre? Porquê tanta fruta, e sopa, e exercícios, e suor? - Leste algures que as toxinas são expelidas pela transpiração; e que o chá e o café são antioxidantes - Mas por que raio não deixas pelo menos alguns radicais-livres correrem-te pelas células? Talvez ganhasses cara de homem, pelo menos.

As mulheres ofertosamente enfeitadas já não te estimulam. Descobriste, tantos anos depois, que a beleza é o cruzamento entre o olhar e o entendimento. É a perfeita harmonia entre o olhar que busca e a mente que encontra. E que – tal como Deus – está nos pormenores. Sempre adoraste, admito, uma beleza natural, ‘beleza arrancada ao sono’. Relembro-o e relembras-me quando escreves. Mas agora pareces deleitar-te com a imunda negligência da mulher que lê despenteada numa esplanada, com os óculos descontraidamente na ponta do nariz, quase deitada sobre duas cadeiras, relaxadamente abstraída, tão idílica quão enigmática, que nem repara em ti porque bronze e corpo definido têm os pedreiros, e Fred Perry’s é apenas uma insígnia, e um BMW é só um carro.

E aí talvez te apercebas que um intelectual não o admite nem se revê nessa concepção, e muito menos se adora frente a um espelho, e não tem esse ego que te mata (ou te há-de matar). E que um filósofo não escreve somente sobre si e sobre a sua dor. E que um artista para o ser tem que atingir um grau de distanciamento quase exilante, um estado de migração das emoções e vaidades que tu, mero amante – porque é o que és – jamais obterás. O artista imita a vida. Tu vive-la. E por muito diferentes que sejam as formas de agora o fazeres, sabes que só o vento, e com ele as moscas, podem mudar.

03/12/2008

A Mulher no Tempo e Espaço

Mulheres. No singular para mim, mas isso depende de cada um. Centro do universo, convergência da espiral, raiz profunda no órgão que revivalisticamente bate mais forte. Luz e obra-prima à escala universal.

Mulheres. As que me agradam não constam de nenhum catálogo objectivador das mesmas, FHM's e Maxmen's, Gina's cosmopolitizadas, onde as espécimes são ordeiramente alinhadas pelo tamanho das mamas e dos rabos que não me enganam; onde se expõem de forma camufladamente erótica, mas honrosamente pornográfica, emagrecendo a fantasia, que acaba por se desvanecer, com o folhear das páginas cruas e castradoras de emoções, carnais e passageiras. Com a facilidade com que esgotámos a mulher que vendeu a dignidade nas páginas 4, 6, 7 e 8, procuramos, numa irrealidade sucedânea, a que se despe nas páginas mais à frente. Assim, despidos de romantismo, transpomos para a vida este imediatismo sexual, com a descartibilidade de parceiros e a fisicalidade que horrivelmente o caracterizam.

Desprezo as Carolinas Patrocínios deste mundo, imaginações limitadas em corpos de 19 anos que não são eternos, de sorriso plastificado e olhar vazio, divindades desta Era iconoclasta, onde as massas (estúpidas, numa acepção churchilliana) são servos e senhores ao mesmo tempo, adorando o que lhes é imposto, impondo o que adoram. Ou as Soraias Chaves dos filmes que eu não vi, corpos de prostitutas em caras de saloias, que se pornotraficam e se tornam estrelas de cinema, sob a direcção de cinéfilos beirões, comentadores desportivos num qualquer programa semanal.

As mulheres, por sua vez, envergando a bandeira dum feminismo póstumo ao dos movimentos pela igualdade civil dos anos 60 (que defendo incondicionalmente), camufladas por um neo-sufragismo justificador cuja demanda é tornarem-se os “homens” da actualidade, desrespeitam-se mais agora do que em qualquer outro momento da História. Homens e mulheres extinguiram o pudor, aquele que, quanto a mim, é das mais sedutoras características da insustentável leveza do ser feminino. As mulheres aniquilaram-no como forma de se equipararem aos homens - sem se aperceberem que nós (leia-se o “homem médio”) sempre fomos o sexo fraco e limítrofe da fronteira humana/animal. Os homens não o extinguiram, apenas o abandonaram involuntariamente porque, como sexo fraco, não conseguem impor a razão à vontade perante um corpo semi-despido ou resistir à gratuitidade do sexo, fortuito e impessoal. O Homem é, historicamente, um derrotado da libido. Numa clara aceitação bovina, as hostes masculinas curvam-se todos os dias perante as elites femininas, assistindo à ascensão dum império construído não sob o suor ou sangue, mas sobre a sua racionalidade passiva.

Quanto a mim, talvez o meu reino não seja deste mundo. Não o é pois não me consigo abstrair da melodiosa métrica do cortejo, nem do romance que me embala os dias, ritmando cada momento. Não o é porque trato uma mulher como uma mulher, não lhes passo à frente nas portas nem subo escadas atrás delas. Não o é pois não me rendo à plasticidade das interacções com o sexo oposto. Não o é porque gosto da prodigiosa ilimitude da imaginação quando fantasio com o momento em que a vejo nua, na recatez de um quarto, mostrando-me sítios só meus, onde só eu posso ir, correndo e suando lado a lado em momentos onde almas e sonhos se cruzam, onde mesmo quando é mau é bom.

Mulher; não tenho espaço para o plural. Se algum dia caí na gratuitidade relacional é por ser um refugiado do sentimento, vivendo no exílio do destino. Mas alguns anos depois, naquela noite alentejana de Agosto, sozinho apesar de rodeado de amigos, entendi finalmente o que David Gahan repetia no refrão que o celebrizou. Tarde demais.

Ao contrário dos meus congéneres, não vibro com grandes mamas nem rabos fantásticos, mas enlouqueço com peles brancas e lisas. Não me iludo com coxas de ginásio nem barrigas tonificadas, mas adoro cabelos e sobrancelhas naturais, rostos sem maquilhagem, cinturas magras, mãos e pés delicados, feições finas, lábios pequenos. Bela, sem efeitos, de uma beleza que acaba de se arrancar ao sono. Não quero vê-la a arranjar-se ou a pentear-se! - é como um mágico explicar os seus truques.

Sou um fascinado da graciosidade feminina. A mulher flutua, hesita, flutua, hesita. Apaixono-me com o pegar duma chávena e o percurso que lhe distancia a mão da boca, o afunilar dos lábios enquanto absorve, o pousar insonoro da chávena. Sentada, observo-lhe a postura, a simetria dos ombros, a inseparação das pernas. Levanta-se e o meu olhar segue-a num caminhar felino, cruzando subtilmente os calcanhares, revelando um bambolear algo infantil. Rendo-me quando vejo a menina que se esconde dentro da mulher independente, autónoma, segura, mas que se entrega à ternura e à protecção de um abraço. “Fragilidade, o teu nome é Mulher”!

O meu reino não é deste mundo. Talvez. Ou talvez tudo isto sejam apenas comparações.

20/11/2008

Pulp - Disco 2000 (Different Class, 1995)

É inegável o revivalismo que sinto quando agora busco as origens do britrock ou britpop, movimento oriundo do underground londrino pertencente a um certo intelectualismo diletante, inescapavelmente niilista, correspondendo à moderna concepção de dandismo, desenquadradamente adaptados, relaxadamente alinhados, apontando o ridículo do normal, vaporando uma excentricidade moderada (ou irreverência disciplinada - os ingleses têm a palavra certa, kookiness), exaltando a distinção do indíviduo da multidão.
Ícones do ínicio como Pulp ou Suede, que recentemente voltei a procurar, fizeram-me reviver alguns sons eu ouvia já na pré-adolescência, como esta que aqui proponho. Sonoridade quase ejaculatória, letra e história simples (como em tudo o que é genial), e um vídeo de uma métrica clean e algo retro, glamoroso q.b..
Well we were born within one hour of each other.
Our mothers said we could be sister and brother.
Your name is Deborah... Deborah...
It never suited you...
Oh and they thought that when we grew up,
We'd get married, and never split up.
Oh we never did it... although often I thought of it...

Oh Deborah, do you recall? Your house was very small,
With wood chip on the wall. When I came around to call, you didnt notice me at all
So I said: Let's all meet up in the year 2000! Wont it be strange when were all fully grown?
Be there at 2 o'clock by the fountain down the road!
I never knew that youd get married... I would be living down here on my own
On that damp and lonely thursday years ago!

You were the first girl at school to get breasts,
And Martyn said that yours were the best!
Oh the boys all loved you but I was a mess...
I had to watch them trying to get you undressed.
We were friends, but that was as far as it went,
I used to walk you home sometimes but it meant,
Oh it meant nothing to you, 'cos you were so... popular

17/11/2008

Blur - The Story of the Charmless Man


I met him in a crowded room
Where people go to drink away their gloom
He sat me down and so began
The story of a charmless man

Educated the expensive way
He knows his claret from his beaujolais
I think he'd like to have been Ronnie Kray
But then Nature didnt make him that way...

He thinks his educated airs, those family shares,
Will protect him... that we'll respect him
He moves in circles of friends, who just pretend
That they like him; and he does the same to them
And when you put it all together:
Theres the model of a charmless man

He knows the swingers and their cavalry,
Says he can get in anywhere for free...
I began to go a little cross-eyed
And from this charmless man I just had to hide

He talks at speed, he gets nose bleed
He doesnt see his days are tumbling
Down upon him
And yet he tries so hard to please
Hes just so keen for you to listen
But no-ones listening
And when you put it all together:
Theres the model of a charmless man

'(...) O século globalizado já viu duas guerras mundiais de valores. Há vinte anos ainda se lutavam as últimas campanhas do primeiro embate civilizacional mundial, que começara cem anos antes. Tratava-se então de defender a empresa e o mercado contra ataques da sociedade socialista e economia planificada. Como agora, os agressores tinham a certeza de estar com o futuro, o que lhes dava uma raiva e arrogância imparáveis.

Hoje, os mais jovens não conseguem acreditar que ainda nos anos 1970 e 80 as visões marxistas não só eram activas mas consideravam-se a única alternativa razoável. Para os "progressistas" de então, não se tratava de um embate de ideias, mas da luta entre o futuro em ascensão e o passado bafiento, entre defensores da modernidade e cadáveres ideológicos que se desconheciam como tal. Hoje sabemos afinal que cadáveres eram os comunistas. Alguns poucos ainda mexem mas já não defendem nada. Limitam-se a atacar tudo. Saem do túmulo para bramar nas crises. (...)'

João César das Neves, DN 2008.11.17

10/11/2008

Triologia do Desalento – Parte II (escrito em 2008-09-16)

A vida é cor, é luz, é alegria, é movimento. E eu – numa palavra – sou apenas desalento. (…)’.
Jorge Fernando, Fado do Desalento

Odeio frequentemente a pessoa que sou. E sou um milhão de pessoas diferentes de um dia para o outro. Intelectualmente pedante, ofendo, debocho e ataco para, não raramente, mais tarde me contorcer com remorsos; a efemeridade das resoluções que tomo revelam-me que não tenho o mínimo sentido de mim. O meu medo primitivo é ser aquele que tento mudar, imutável, escrupulosamente imune. Temendo o sofrimento, sofro já aquilo que temo.

Mais do que a minha filosofia, mais do que o que escrevo, sou aquilo de que me tento libertar quando o faço. Sou os meus demónios – que tento exorcizar quando escrevo. Porque – tal como Eça – também creio que as cartas de um homem, sendo o produto quente e vibrante da sua vida, contêm mais verdade que a sua filosofia, que é apenas a criação impessoal do seu espírito. Uma vida que se confessa é objecto maior do intelectualismo, é a mais pura realidade humana: crua e egoísta, cheia de amor e de dor, saudade e orgulho.

A vida é um conjunto de acasos que se cruzam a que chamamos destino. O busílis da questão reside agora na dúvida da existência de um plano divinamente prévio, ou não passará tudo duma desordeira desilusão? Qual é a vida e qual é a morte, e qual delas vivo eu agora? Vivo: epifania gramatical do indicativo: eureka da minha prosa.

À escala do relógio solar, tomando como referência para a idade do planeta as vinte e quatro horas diárias, a passagem do Homem pela Terra só dura ainda há um segundo. A relatividade da nossa existência é arrebatadora. E depois de mim? O vácuo existente para além, o nada completo, a demoníaca paz. A resposta é titânica, a uma escala que não compreendemos. Não raramente tenho medo de descobrir a minha real índole; medo do meu destino ser bem maior que eu. Como posso eu morrer se correm por mim como rios tantas ideias, dúvidas, teorias, ânsias; extinguir-se-á com a morte toda a minha curiosidade, todo o meu infinito amor?

O que somos e a preponderância do nosso cunho na existência universal é irrisória. Nada do que eu faça significa. Só me resta o que eu sei e o que eu sinto agora. O eterno pensamento e o inacabável amor. Tudo mais são pormenores, rabiscos floreados num canto da breve sebenta que regista o sucedido entre o parto e o óbito. Resta-me a vontade e o consolo de fazer-lhe milhões de filhos, e em cada um deles amar um bocadinho dela. Porque nada mais somos senão efémeros. A nossa insignificância relativista é abismal. Qualquer coisa que alguém faça, por melhor ou pior que seja, é brutalmente indiferente. A impunidade não mais é senão inglória.

09/11/2008

OOOOOOooooohhhhhhhhhh it seems forever stoped today

all the lonely hearts in London caught a plain and flew away

03/11/2008

Vergílio Ferreira/ Norman Rockwell

'Não és um homem normal. Isso te é uma inferioridade (ou uma superioridade?). Como em tudo o que é diferente. Cultiva a tua diferença. Mas uma diferença pode ser negativa. Esse o teu drama. Porque a tua diferença vai além e fica aquém dos outros. Tu querias ser os outros no em que lhes és inferior e ser diferente no em que lhes és superior. Mas toda a superioridade se paga. Paga e não bufes.'
in 'Conta-Corrente 1'


'Nada ultrapassa o orgulho do rapaz que contempla a sua namorada, vestidos ambos a rigor para o baile, enquanto o homem do bar cheira deliciado a enorme flor que ela tem no vestido (After the Prom, Post, 25/Mai/1957). A maior parte dos artistas do século XX dedicaram-se a contemplar o demónio. Era fácil vê-lo então. No meio do horror, Rockwell preferiu ver Deus. Procurou-o num dos locais onde Ele gosta mais de estar: o próximo, através do dom divino da simpatia.'
João César das Neves, DN, 2008-11-03

30/10/2008

27/10/2008

To Write

The past of a messed up existence shall prevail on the way I write and feel, so I assume that some displicence, pride and prejudice are, somehow, part of an inviolated character. Although, I do show some respect to few, a few ones who are a lot on my peculiar scale. Certainly, English people including: role model of sobriety and manners; guide from any gentleman or lady along; cradle of public spirit.

A perfect gentleman should speak and write distinguished English. And this is not only my stand point - but the set of beliefs of Mr. Oscar Wilde, the same one who, in his grave of dead, layed out on a rented room which he couldn’t pay, digged on agony those which were, probably, his last words: “I die the same way I lived, much above my possibilities”.
Despite of still remaining writing on my mother language, I’ll start now, smoothly, without haste, to make my thoughts ephemeral, consecrated on paper eternally on the 'gentlemen speech'.

As I've been inspired by some of the socratic teachings, I know I don’t know much, however I have a few certainties in life until now:
1- The taste for an refined dandier existence, gathering with the pleasure and vice of thinking;
2- That kind of infinite certain which would make me tattoo every letter of her name on my arm or on my chest (me, who have always hated and absolutely scorn this type of 'native body embellishment');
3- And, finally, an inveterate and innate tendency for vanity, sometimes, from which I can't release myself. Consequently, I was no surprised when I totally reviewed myself in this lyrics I listened in the radio, one of these days. But even here, on my maxim absurdity, I can justify my own, arguing that mocking ourselves it’s a sarcastic, ironic reflex, only understood by few ones.

22/10/2008

'Look in the orient when the gracious light
Lifts up his burning head, each under eye
Doth homage to his new-appearing sight,
Serving with looks his sacred majesty;
And having climbed the steep-up heavenly hill,
Resembling strong youth in his middle age,
Yet mortal looks adore his beauty still,
Attending on his golden pilgrimage:
But when from highmost pitch, with weary car,
Like feeble age, he reeleth from the day,
The eyes, 'fore duteous, now converted are
From his low tract, and look another way:
So though, thyself outgoing in thy noon
Unlooked YOU will die unless you get a son.
'


William Shakespeare, Sonnet VII

14/10/2008

um pequeno aparte...

Da universalidade de inquirições e contestações de trivialidades que me são inerentes em razão do observadorismo extremo de que padeço, a condição patética do homem (homem e não Homem) surge-me porventura como das mais revoltantes visto tratar-se duma característica de género, que eu venha, tenha ou partilhe.
A minha colega de gabinete, mostrava-me agora mensagens de hi5 (antro de superficialidades revitalizadoras de egos, poço de Photoshop e manipulação de imagens, premonição ainda mais flagrante do momento decrépito da sociedade do que aquele novo programa da Teresa Guilherme), mensagens dum seu amigo(!) que aproveitava as novas tecnologias para iniciar o seu (primitivo) ritual de acasalamento, e a quem ela ridicularizava, lendo entre risos as deixas que o infeliz deixara como comentário às suas fotos sorridentes, e a sua réplica fria e seca, tornada pública a quem quer que consulte o seu perfil. O facto de eu conhecer o infeliz, que estratégica e honrosamente ocultei, fez-me despender cinco minutos do meu tempo para desabafar com o teclado.

A verdade, despida, sincera, é que temo tremendamente a subserviência da corte do homem. O curvar galante, submisso, inseguro, cheio de piadas fáceis e mornas (por conseguinte, estúpidas) politicamente correctas – não se vá ferir alguma susceptibilidade! – afigura-se perante mim como a mais patética condição masculina, a par com o suplício. Só o gatinhar comiserante perante a divindade feminina, soberba e toda-poderosa, precocemente emancipada (porque está, inegavelmente, no período de infância do seu estágio de igualização) pode ser tão ridiculamente redutor como o acto de implorar.

Depois de tantos anos duma condenável hegemonia masculina, corre-se agora o risco da tirânica ditadura feminina: crua, fria, impiedosa. É por isso que não corro atrás de mini-saias nem de mulheres de olhar errático nas discotecas. É por isso que nem sequer mudo de direcção se avisto alguma. Se o fizesse seria para tentar perceber carácteres enigmáticos, desafiantes para o meu modo subversivo. Mas de cada vez que agora lhes procuro o elemento transcendente captativo da minha atenção e devoção, sou ofuscado com batons berrantes, blush exagerado, unhas encarnadas, sandálias vistosas e malas espampanantes. Talvez a culpa seja minha, talvez sejam vítimas duma fácil descodificação, por força da minha tendência de tudo reduzir a estereótipos e generalizações...

13/10/2008

"A actual crise financeira tem multiplicado as reflexões de fundo sobre o sistema capitalista. Na maioria elas seguem uma teoria conspirativa, variante da luta de classes: existe uma elite que não só costuma explorar a massa do povo mas ainda gera estas terríveis convulsões com as suas imprudências. Tais ideias têm muito de verdade. São evidentes as fraudes, erros, crimes. Mas o mais dramático e curioso é que a crise não precisava disso para surgir. Ela pode acontecer mesmo sem qualquer falha, porque provém da natureza íntima do capitalismo.

A essência do nosso sistema económico é a liberdade de iniciativa. Cada um pode apresentar no mercado os produtos que quiser e, se forem preferidos pelos clientes, terá sucesso e prosperidade. Foi este sistema que gerou o incrível desenvolvimento da humanidade nos últimos dois séculos. Mas é também este mecanismo de experiência e tentativa, risco e atrevimento, que cria a instabilidade latente e recorrente na nossa vida. O tumulto não é acidente fortuito, mas elemento nuclear. Pode dizer-se que o capitalismo só floresce à beira do abismo.

O progresso nunca é ordeiro, calmo, planeado, mas uma permanente convulsão de criatividade e empreendimentos. Os sucessos são sobreviventes de muitas ideias que, apesar de boas e originais, ficaram pelo caminho. A coisa até corre mal mesmo quando corre bem.

Ainda alguém se lembra do Lisa, o computador que a Apple lançou em Janeiro de 1983? Era uma máquina impressionante, revolucionária, com novidades que perduram como o "rato", memória virtual, processamento múltiplo. Só que o pobre Lisa ficou na sombra do seu sucessor, o Apple Macintosh de Janeiro de 1984, que, esse sim, estabeleceu um padrão duradouro na tecnologia. Os desgraçados que compraram o Apple Lisa adquiriram um produto excelente mas logo obsoleto. São eles as vítimas do progresso.

Em grande medida é isso que está a acontecer no sector financeiro.

(...)

A este fenómeno têm de se juntar os elementos específicos do sector financeiro. Nas finanças lida-se directamente com moeda, que é uma responsabilidade directa do Estado. (...) Todas as instituições financeiras funcionam numa espécie de concessão pública. O Estado mantém-se o garante último do sistema monetário e tem poder absoluto sobre ele.

Por isso as recentes intervenções governamentais não são socialismo, keynesianismo, ou sequer intervencionismo. São do mais estrito e autêntico monetarismo. Foi Milton Friedman, supremo neoliberal, quem recomendou estas políticas para tratar crises deste tipo.

(...)

A raiva visceral de tantos à sociedade contemporânea tem aqui a sua justificação iniludível. Vivemos num mundo de prosperidade incomparável. Existe desigualdade, como sempre, mas muitos ganhos na medicina, comunicação, cultura e conforto até aos pobres beneficiam. Já nos esquecemos da terrível miséria antiga. Mas ao mesmo tempo experimentamos um clima ímpar de incerteza e instabilidade que nos assusta. Por isso, no meio dos benefícios, tantos se irritam e protestam. Só que abandonar o sistema por causa desses custos seria tão tonto como se o desgraçado que comprou o Lisa desistisse de usar computadores."

12/10/2008

09/10/2008

'Aquele que controla os outros tem força, mas aquele que se controla a si próprio tem o verdadeiro poder.'

07/09/2008

“If at first, the idea is not absurd, then there is no hope for it.” Albert Einstein

05/09/2008



'O ócio torna as horas lentas e os anos velozes. A actividade torna as horas rápidas e os anos lentos.' Cesare Pavese

23/08/2008

Triologia do Desalento - Parte I

'Man is least himself when he talks in his own person. Give him a mask, and he will tell you the truth.' Oscar Wilde

Espelhos: um irresistível magnetismo atrai-me para a amaldiçoada admiração. O reflexo da imensidão de mim condensados num corpo. O convergir do génio humano num bocado de matéria – mas que admirável construção! Foco-me errática e obsessivamente na riqueza de pormenores. Desejo blasfemicamente a multiplicação de mim. Regojizo-me com a ideia de ser eu, e de o ser para o resto da vida. Mas quando me apercebo que um espelho junto à cama me leva a um extâse tóxico, quer esteja sozinho ou acompanhado, pela assistência de mim próprio a toda a magnitude que em mim encontro, sou atropelado em reluzente epifania pela parábola de Narciso, aquele que depois de rejeitar Eco, a sua ninfa, por maldição vive o resto da vida apaixonado pelo seu próprio reflexo na água, acabando por se suicidar afogando-se.

Conheço a minha demência; saboreio-a. Sento-me e escrevo sobre ela. Fecho a porta e rodo a chave enferrujada da casa do Cercal onde repouso nestes dias do mês mais quente do ano para os demais, deprimente e paranóico para mim. Odeio Agosto. Na sala ouço a voz cortante da Júlia Pinheiro. Televisão, a droga dos felizes e conformados. Coitada dela, que assiste, enroscada num lençol fresco e amarrotado sobre um sofá antigo, de tipo senhorial, aos programas da hora em que o sol é demasiado perigoso para se estar na praia. É uma bébé entretida com um brinquedo colorido. Displicente e paternal, despertou-me um sorriso. Já vai longe a histérica gritaria de ontem, com as acusações gastas e o ouvi-la cabisbaixo, escondendo a indiferença, fingindo um afecto que não tem espaço em mim. No meu egocentrismo, estou demasiado dedicado aos meus exorcismos para pensar em mais alguma coisa. Leio, fumo, surfo. Penso e às vezes escrevo. Sabe-me bem estar aqui. Um homem pode ser feliz com qualquer mulher, desde que não a ame.

Sei agora que ela - o meu quarto de hotel - com todos os seus sonhos e aspirações, desejos e ânsias - ela que merecia ser um lar e não um poiso - afigura-se perante mim de forma tão aprazível quanto desprezível. Adoro-a, a minha amiga, com quem falo das coisas que entende, a quem invejo o pragmatismo e simplitude. Arruma a minha desarrumação, propicia-me todas as noites deitar-me em lençóis esticados e sacudidos, cozinha o jantar sob um lume hipnotizante e, parece-me que quase por magia, levanta e lava os pratos enquanto continuo letargicamente sentado à mesa, abraçado a um balão ardente que me alimenta a alma. E é, mais que isto, muito mais, aquela com quem sonho, não com ela mas através dela, por via da radiante semelhança do seu corpo e cabelo. Até o tom de voz que já só relembro remotamente. Quando me deito a seu lado viajo para aquele espaço-tempo diferente, tão rigorosamente delineado quanto irremediavelmente irreversível, de uma pureza e ternura que já morreram, e com elas toda a minha capacidade de amar. Não a amo. Não amo ninguém. Amo-a às escuras, por trás, em silêncio. Só a amo na minha loucura, na clonagem doentia da minha percepção deturpada.

Em época de redenção evito Narciso e o seu destino. Normalizar, aprender a ser como os demais, imitá-los, admirá-los, é trilho e meta para mim. Talvez assim consiga um dia sentir de novo o fascínio doutrora... pelos outros, por uma mulher. O homem a quem ninguém agrada é incomparavelmente mais infeliz do que aquele que não agrada a ninguém. Porque ao nos agradarmos demasiado, acabamos por estabelecer parâmetros sobrehumanos ao nosso próprio agrado. E viveremos enclausurados numa torre de intransigente exigência, cercados por um fosso de tormentosas comparações. Presos no momento, onde é tão mais fácil adulterar um Passado imperfeito, convencendo-nos da sua perfeição, do que planear um Futuro alternativo.


'Quem não estiver familiarizado com o sublime, sente o sublime como inquietante e falso.'

Friedrich Nietzsche, in A Vontade de Poder

13/08/2008

'É preferível ser violento, se houver violência nos nossos corações, do que vestir o manto da não-violência para encobrir a impotência.'

07/08/2008

London Calling


Não escrevo - não tenho tempo - a época estival que agora atravessamos ocupa-me suficientemente para não precisar do exorcismo recorrente da escrita. Mas as 2h05m que separam Heathrow International da cidade da minha vida sopram-me a saudade das palavras e da sua efemerização, da incursão até à esterilização da criação artística onde ser o melhor é aspiração natural para os novos pobres deste colégio interno.

Londres do céu carregado e da chuva miudinha; do fog matinal. Londres berço da História Moderna; monumental. Das paredes de tijolo e das grades baixinhas. Do Underground e da repetitiva 'Please mind the gap between the train and the platform'. Da insubestimável polidez das pessoas e do asseio das ruas. Do civismo e da amabilidade. Da minuciosa atenção aos pormenores e do metódico perfeccionismo. Da pacatez do Hyde Park e do frenesim da Oxford Street. Do misticismo do Thames e da boémia Picadilly Circus. Do classissismo das gravatas às riscas e do bom gosto do tweed. Da imperatividade dos botões de punho, dos colarinhos esticados e do anti-italianismo. Da sobriedade das cores e do padrão prince of wales. Da fenomenal heterogeneidade étnica e da enriquecedora pluriculturalidade. Do liberalismo e da abertura de mentalidades.

Londres do turismo, onde milhares seguem em procissões, de mapa na mão e câmara a tiracolo, de monumento em monumento, em verdadeira obsessão-compulsão, um mar de gente afunilando em todos os pontos relevantes anunciados pelos mapas das suas travel agencies, com horários religiosamente estipulados. Não foi essa Londres que conheci. Certamente que também parei e contemplei a Tower Bridge, vi o Big Ben e tirei uma foto no Buckingham Palace. Mas, felizmente, viajando com os meus pais, conhecedores de Londres e críticos acérrimos do mainstream, extremamente aversos a confusões e detentores de uma certa e abençoada inflexibilidade, pude gastar o meu tempo em vez de o consumir de acordo com os roteiros turístico-comerciais, e respirar a cidade e sentir o pulsar do povo que desde sempre mais me fascinou. Londres do orgulho e altivez. Da intransigência e da prepotência. Das transversais da Fleed Street e da City of Westminster. Dos musicais e das estreias mundiais. Da Fullham Broadway e dos brandies em Hampstead.

Londres das mulheres, da caramelosa suavidade da brancura idílica das suas peles, da formosa castidade que fugazmente deixam transparecer, do porte altivo, dos saltos altos e do andar majestático, do flutuar pincipesco, dos narizinhos arrebitados e das orelhas que, furtivas, tentam às vezes espreitar - para meu deleite - por detrás de um cabelo de boneca perfeitamente assente, mas tão solto que, com a mais leve brisa, parece ganhar vida própria. Ahh! como sinto agora que este é um sítio terrível para se estar com os pais, que vontade de as encontrar num bar e poder sussurar-lhes ao ouvido toda a sua magnitude, e depois sentir toda a sua fragilidade nos meus braços, o seu peso no meu colo, a sua vontade na minha, dominante.

Minucioso, ou maníaco, com o olhar triunfantemente errático, observando and getting breathtaked, de rua em rua, esquina em esquina, foi então que, como colhido por um toiro ou atropelado por um rooftop bus, na primeira segunda feira de Agosto, nessa cidade estrangeira de cor cinzenta e ar bucólico, vi aqueles ombros carnudos que amarrecavam... que amarrecavam com o peso de dois peitos cheios e descaídos; ombros camuflados por um cabelo loiro e fino sobre as costas, tão perfeita na sua incomparável imperfeição, tão segura na sua radiosa enfermidade, tão adulta na sua jorrosa infantilidade. Desperta o meu lado lobantuniano e aniquila a tendência saramaguiana que há em mim. Que vontade de escrever e descrever pormenores! Desorientado com tão demoníaca semelhança, paro em plena Queens Gate e sou engolido por um mar de gente enquanto a perco de vista. Um arrepio abraça-me quando o inexorável medo do sonho que se avizinha horas mais tarde, quando me deitar, me arrebata como um terrível presságio. Foi assim que, nessa noite, depois de os meus pais subirem para o quarto, saí sozinho – it's everything ok, sir? - yes, I just got issues with my sleep-. Entro num taxi – to Convent Gardner, please – deambulo até convergir num pub e – a large beer, please – subo até Leicester Square onde um club que promete num cartaz diversão 'american style' até altas horas chama por mim. Lá dentro um punk, que pela conversa me apercebi ser um mentecapto nacionalista, me toca num braço pois, pelos vistos, o polo da Fred Perrys que eu vestia é em Inglaterra símbolo daqueles que aclamam a injustificável superioridade da raça(?) branca. Estou sozinho e não estou com paciência nem arrisco debochar, por mais subtil que fosse, com um grupo de cabeças rapadas com cristas e coletes de cabedal, com o cheiro de dias de suor e cerveja, furados nas narinas e sobrolhos. Solto um cínico - yeah man, white power rules... - enquanto me afasto em direcção aos gent rooms. Lá dentro oiço o snifar dentro duma das cabinas e... brrrrrr... saio o mais depressa possível dali, em direcção ao bar, desalentado e sozinho, onde me dirijo a uma barmaid com ar de lésbica dominadora, corte de cabelo à militar, loira, alargadores nos lóbulos e trejeitos masculinos – james martin, double, one icecube - what happened, are you allright mate? - inquere-me com um sorriso quente - Ain't nothing wrong, ain't nothing right, although, I'm just here 'cause other way I'd be laying awake all night. À minha volta grupos de bifes e bifas histéricos saltitam ao som de 'you make a grown man cry...', e enquanto sorvo o meu whisky e vejo o meu reflexo no espelho por trás das garrafas do bar, penso quantas vezes terão Darwin, Newton, Shakespeare, Dickens, ou até o inevitável Pessoa deambulado melancolicamente nos mesmos sítios por onde agora me passeio, quantas ideias lhes terão surgido, quantas vezes terão sido apelidados de loucos, e quantas pessoas, barmaides, porteiros ou meros traunseuntes terão morrido na ignorância da interacção com espíritos tão imortais. Sinto o peso da herança londrina.

Pedem-me para desligar o computador. Presumo que estejamos a chegar a Lisboa. Um magnífico pôr-do-sol pinta as nuvens de um rosa suave. Ao longe já pareço ver o meu mar. Publico no blog mais tarde.

15/07/2008

14/07/2008

Amor Perro


Dissertação sobre o diletantismo

O problema do diletantismo e da boémia reside no facto de nunca se parar. Entre copos e jantares, festas e gente ebriamente eufórica, calor e tardes na praia não há espaço para pensar. A mente ocupada vagueia pelas vivências triviais como uma terapia a que ela própria se impõe. Quando se pára pensa-se na vida, por onde se foi e por onde se teria ido. A morte da bezerra é aqui tranquilizante eufemismo. Pensar não dói. Pensar faz doer. Pensar reboca lentamente uma alma pesada encravada no pretérito imperfeito do conjuntivo. Pensar conduz-nos ao resígnio epopeico do romeiro: '-Ninguém!', e à sua epifânica glória.

Ensaio sobre o ódio

O ódio, pelo ódio existe. Sartre teoriza que existe apenas a relação Eu, enquanto sujeito, versus Não-eu, o objecto. O meu olhar transforma o outro em objecto ou sou transformado em objecto pelo olhar do outro. O mundo objectual só pode ter valor se eu lho atribuo. Para odiar, tenho que valorizar. Daí que não seja desprezista em relação ao que odeie, pois para isso o objecto seria-me indiferente.

Há o ódio visceral, como o de Almada Negreiros, obscuro, vingativo, agachado na sombra duma esquina. Há o ódio cínico, amarelado, ódio que reprime. O ódio mostra aqui o que o amor oculta. Há, por fim, o ódio do momento, espontâneo e irreflectido, nervoso e cego.

Destarte, é possível afirmar que o ódio está intíma e irremediavelmente ligado com a humanidade do Homem. Aquele que nunca odiou é frio, calculista, impenetrável, desumano. Os animais não odeiam, pois não sentem, não têm expectativas, auto-estima ou reflexo de personalidade. O animal irracional é o único espectador da sua própria conduta, e a única criatura que zela por si; logo, não se compara aos outros, nem por eles é ofendido nas suas acções. O chacal cuja carcaça é roubada pelo leão não o passa a odiar.

O exposto leva-me a crer que o elemento ofensivo, e por conseguinte gerador do ódio humano, não é a acção ofensiva em si, mas sim a falta de consideração que ela própria comporta. Ou seja, não é o mal per si que gera o ódio, sendo pelo contrário o desprezo em relação à pessoa do ofendido patente na intenção de prejudicar. Assim sendo, penso que posso também silogisticamente afirmar que aquele que menos odeia é aquele que possui a auto-estima menos elevada, por se ter em menor consideração e dificilmente se ofender.

06/07/2008

03/07/2008

Estúpida época, estúpidos dias, estúpida idade. Cincundas-te e nada te estimula. Contextualizas-te e tudo menosprezas. Estúpidas são as pessoas, estúpidos são os móbiles, estúpidas são as formas como passam o tempo. Fita-os demoradamente, olha-os mais fundo que os olhos e perfura-lhes a alma em busca do grito mudo na garganta e do buraco que trazes sempre no estômago. Procura-lhes a profundidade que lhes permitisse provar a dor humana. Raramente a encontras. A ingenuidade é a fórmula da felicidade. És o jogador cansado e falido pelas dívidas à procura da emoção do primeiro black jack.

Da dor humana nunca se fala. Discuti-la é vulgarizá-la. Um Homem sofre sozinho e sofre para dentro. A dor humana prova-se, mastiga-se prolongamente, deixamo-la consumir-nos. Mas a morticidade naqueles que a provaram é inconfundível. Há uma solidariedade intrínseca e silenciosa. Há um estado eufemístico que perdura. És agora o espectro dançante do que foste outrora. És o padre promíscuo e descrente à procura da fé e pureza revigorante dos tempos de seminário.

Deixaste de conseguir fingir sentimento. Há muito que não o sentes mas ainda conseguias fingir fascínio e entusiasmo. Estás agora coberto por uma apatia amarela, embaladora, de certa forma reconfortante. Nada lhes digas, mente-lhes descaradamente. Desabafo é fraqueza e a fraqueza é sempre pisada. Orgulhas-te dos teus erros, és soberano nas tuas acções. Nunca mostras arrependimento. Vives no circuito fechado da tua majestática consciência. Encerras-te no cinismo e no cepticismo. Apagaste a palavra saudade e olhas de soslaio para toda a gente. És mentiroso. Até para ti próprio. És o palhaço ridículo que se esqueceu como rir.

Julgavas que o iluminismo que sentias era a porta para a felicidade. O iluminismo que sentes hoje é condenação à insatisfação- o grau de exigência que sentes é maior que o tamanho da vida. Invejas Caeiro todos os dias. As distracções tornaram-se agora tão fúteis quanto necessárias. Efémoras, não perduram até à próxima manhã. A felicidade está tão perto e tão longe: oásis à distância de um beijo e miragem inalcançável ao fundo do destino. Entraste num círculo maldito: pensar é definição de ti e castigo de ti. Morres de ternura quando fechas os olhos, renasces para um vazio arrepiante quando os abres. És a viúva inconformada e inconsolável que todos os dias faz o jantar ao marido. Estás preso no momento - és o período entre o fecho dos bares e a abertura dos cafés. És a distância entre o divorciado e a moldura que segura nas mãos. És a mnemónica constante de ti próprio. És um voyeur exposto. És a patética decisão de vestir dois gémeos de igual. És o anacronismo de um idoso.

Movimento Perpétuo Associativo

01/07/2008

A virtude vulgar

'Aprende a contar uma anedota; duas anedotas; três anedotas; quatro anedotas... uma anedota diverte muita gente; aprende a polvilhar de blague todas essas ideias sérias, pesadas, profundas, obscuras, - ao cabo simplesmente maçadoras - com que pretendes sufocar (...); aprende a cultivar aquele subtil espírito de futilidade que ligeiramente embriaga como um champanhe, e a toda a gente agrada, lisonjeia todos (...); não queiras ser nem sobretudo sejas mais inteligente ou mais sensível, mais honesto ou mais sincero, mais trabalhador ou mais culto, mais profundo ou mais agudo... numa palavra: superior. Sim, homem! Aprende a ser como os outros, dizendo bem ou mal de tudo e todos - conforme - sem os excederes nem te comprometeres demasiado; e deixa-me lá esses Proustes e esses Gides e esses Dostoievskis e esses Tolstois (vem aí o tempo em que todos esses jarrões serão levados para o sótão!), deixa-me essa estética e essa mística e essa metafísica e essa ética (já o tempo chegou de se ver a inutilidade e o ridículo dessa pretensiosa decoração), deixa-me lá esses estrangeiros, e essas estrangeirices.'

José Régio

29/06/2008

críticas ao marialva?

'Ser conservador em Portugal é responder afirmativamente a três perguntas fundamentais: a) gosta de touradas? b) gosta de fados? c) gosta do sr. Dom Duarte e chora regularmente pela memória do sr. Dom Miguel? Tão simples, tão rápido: quem gosta de touros, reis e guitarradas pode vestir o traje do conservador marialva, essa ridícula criatura que continua a habitar o imaginário político da direita lusitana. Eu falho nas três questões.(...)'
por João Pereira Coutinho, in Única, Expresso nº1859, 13 Junho 2008

Ecletismo é qualidade superior, refrescante, arrefece o fervor dos extremismos sempre prejudiciais, seja em que campo for. Ecletismo é moderação, é racionalidade, é a institucionalização do civismo. Ecletismo é o trilho que tento seguir, tantas vezes sem êxito, estou consciente. Ecletismo é algo que não vejo nos actos opinativos destes neo-eruditos de esquerda, cobertos por um intelectualismo pseudo-liberal, de tendência homossexual (em lato sensu, naturalmente; não digo que gostem de homens, mas utilizo a palavra homossexual por não existir na nossa língua outro termo que permita referir-me a esta classe que prima por uma amabilidade dúbia, por feitio adocicado e empertigado e por um notório défice de testosterona). Não quero ser mal interpretado: sou um fascinado pela civilização, da qual a cortesia e a boa-educação, mormente o bom-trato e a etiqueta, são expoentes máximos. Mas há que distinguir tão nobres virtudes das exuberantemente pavoneadas por pessoas 'amaricadamente' polidas.

Se ainda ontem nas ruas da cidade que é minha há quatro gerações desfilaram homossexuais e lésbicas (num movimento defendido por mim da mesma forma que defendo qualquer movimento pela liberdade do indíviduo e do livre desenvolvimento dos seus fins) e se, tal como eu, também os joãos pereiras coutinhos louvam este tipo de atitudes, então porquê tamanha cruzada pelo fim do castiço? Se existe o orgulho gay, porque é que os homens não se podem orgulhar de ser homens? Se para uma mulher ser feminista é condição sine que non de ser progressista, porque é que o machismo é pejorativo? A verdade é que a luta pela extinção do marialva é bandeira desta classe que no fundo não passa de um conjunto de carneiros com gostos estereotipados e opiniões fotocopiadas e incontestavelmente repetidas. A diferença entre o eruditismo e o pedantismo é que o primeiro envolve necessariamente o domínio do conhecimento e o exercício do pensamento, enquanto que o segundo passa somente pela ostentação do mesmo, porventura plagiado. Vide Michel de Montaigne. Daí que eu não renegue as origens que carrego no sangue nem a tradição de um povo que é o meu, apenas para pertencer a uma classe pseudo-intelectual de quem não gosto e onde não me revejo. Sou pensador-livre. Emociono-me com a dança mortal entre a besta e o matador na arena e arrepio-me com a saudade que o fado revela. E orgulho-me disso. Gosto de comer bem, de vinho, brandy, whisky. E mais do que isto, muito mais, amo a Mulher. Delicada, frágil. De uma castidade idílica. Abençoada pela evolução da espécie, ser ternurento dotado duma subtileza divinal. Deliciosamente graciosa. Gosto de cortejá-la e tratá-la como mulher. Porque é isso que é.

Sentimento Português


Há um sorriso pequeno nos lábios que amei
Faz tempo que te não via e ao ver-te pensei:
Estás mudada, estou mudado...
E dos jovens que um dia se amaram nasceu este fado

Há um sorriso pequeno no Homem que eu sou
Iniciámos o Amor quando o amor nos chegou
Não me esqueço, não te esqueças
Sempre escondidos, escondemos o Amor feito às pressas

Não penses que te vejo como outrora
A vida esgota a vida hora a hora
O tempo gasta o tempo e marca a gente
O espelho mostra como eu estou diferente
Não estou novo, não sou novo...
Mas não peças que a vida te apague do fundo de mim

Há um sorriso pequeno nos olhos dos dois
Há uma dúvida triste que existe e depois
Fico à espera, estás à espera...
Mas a voz não se atreve e uma lágrima em mim desespera

Que viva España


26/06/2008

25/06/2008

23/06/2008

' Mostrar cólera e ódio nas palavras ou no semblante é inútil, perigoso, imprudente, ridículo e comum. Nunca se deve revelar cólera ou ódio a não ser por actos; e estes podem ser praticados tanto mais perfeitamente quanto mais perfeitamente tivermos evitado os primeiros. Apenas animais de sangue frio são venenosos.
Falar sem elevar a voz: essa antiga regra das gentes do mundo tem por alvo deixar ao entendimento dos outros a tarefa de descobrir o que dissemos. Ora, tal entendimento é vagaroso, e, antes que termine, já nos fomos. Por outro lado, falar sem elevar a voz significa falar aos sentimentos, e então tudo se inverte. Com maneiras polidas e tom amigável, pode-se falar grandes asneiras a muitas pessoas sem perigo imediato.'

We're so creative and so much more/ We're high above, but on the floor

everything about you

17/06/2008

"El Juli", Matalo!

Matalo!

Entre toros, fandanguillos y alegrías,
Nació mi España: la tierra del amor.
Solo Dios pudiera hacer tanta belleza
Y es imposible que pueda haber dos!



16/06/2008

Kitsch?

dr. Hoffman


'Albert Hofmann, the pioneering Swiss chemist and advocate of psychedelics who discovered the hallucinogenic properties of LSD, died Tuesday. He was 102.
Hofmann reportedly died of a heart attack at his home in Basel, Switzerland.

Hofmann's most famous discovery happened on April 16, 1943. He was researching the synthesis of a lysergic acid compound, LSD-25, when he inadvertently absorbed a bit through his fingertips. Intrigued by the effect it had on his perception, Hofmann decided further exploration was warranted. Three days later, on April 19, he ingested 250 milligrams of LSD, embarking on the first full-fledged acid trip. That day became known among LSD fans as "bicycle day" because Hofmann began experiencing the drug's intense effects on his bicycle trip home from the lab.

In his autobiography, LSD, My Problem Child, Hofmann remembered his discovery this way:
"In a dreamlike state, with eyes closed (I found the daylight to be unpleasantly glaring), I perceived an uninterrupted stream of fantastic pictures, extraordinary shapes with intense, kaleidoscopic play of colors. After some two hours this condition faded away."

The experience led Hofmann to begin experimenting with other hallucinogens and he became an advocate of their use, in both the arenas of psychoanalysis and personal growth. He was critical of LSD's casual use by the counterculture during the '60s, accusing rank amateurs of hijacking the drug he still refers to as "medicine for the soul" without understanding either its positive or negative effects.

In a celebration of Hofmann's 100th birthday in 2006, Hofmann told the crowd of well-wishers -- which included 2,000 researchers, scientists, artists and historians -- that "LSD wanted to tell me something. It gave me an inner joy, an open mindedness, a gratefulness, open eyes and an internal sensitivity for the miracles of creation."
Hofmann was also the first scientist to synthesize psilocybin, the active ingredient in psilocybin mushrooms, in 1958.'

Modern Love

Não te amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n 'alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.