'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






30/10/2008

27/10/2008

To Write

The past of a messed up existence shall prevail on the way I write and feel, so I assume that some displicence, pride and prejudice are, somehow, part of an inviolated character. Although, I do show some respect to few, a few ones who are a lot on my peculiar scale. Certainly, English people including: role model of sobriety and manners; guide from any gentleman or lady along; cradle of public spirit.

A perfect gentleman should speak and write distinguished English. And this is not only my stand point - but the set of beliefs of Mr. Oscar Wilde, the same one who, in his grave of dead, layed out on a rented room which he couldn’t pay, digged on agony those which were, probably, his last words: “I die the same way I lived, much above my possibilities”.
Despite of still remaining writing on my mother language, I’ll start now, smoothly, without haste, to make my thoughts ephemeral, consecrated on paper eternally on the 'gentlemen speech'.

As I've been inspired by some of the socratic teachings, I know I don’t know much, however I have a few certainties in life until now:
1- The taste for an refined dandier existence, gathering with the pleasure and vice of thinking;
2- That kind of infinite certain which would make me tattoo every letter of her name on my arm or on my chest (me, who have always hated and absolutely scorn this type of 'native body embellishment');
3- And, finally, an inveterate and innate tendency for vanity, sometimes, from which I can't release myself. Consequently, I was no surprised when I totally reviewed myself in this lyrics I listened in the radio, one of these days. But even here, on my maxim absurdity, I can justify my own, arguing that mocking ourselves it’s a sarcastic, ironic reflex, only understood by few ones.

22/10/2008

'Look in the orient when the gracious light
Lifts up his burning head, each under eye
Doth homage to his new-appearing sight,
Serving with looks his sacred majesty;
And having climbed the steep-up heavenly hill,
Resembling strong youth in his middle age,
Yet mortal looks adore his beauty still,
Attending on his golden pilgrimage:
But when from highmost pitch, with weary car,
Like feeble age, he reeleth from the day,
The eyes, 'fore duteous, now converted are
From his low tract, and look another way:
So though, thyself outgoing in thy noon
Unlooked YOU will die unless you get a son.
'


William Shakespeare, Sonnet VII

14/10/2008

um pequeno aparte...

Da universalidade de inquirições e contestações de trivialidades que me são inerentes em razão do observadorismo extremo de que padeço, a condição patética do homem (homem e não Homem) surge-me porventura como das mais revoltantes visto tratar-se duma característica de género, que eu venha, tenha ou partilhe.
A minha colega de gabinete, mostrava-me agora mensagens de hi5 (antro de superficialidades revitalizadoras de egos, poço de Photoshop e manipulação de imagens, premonição ainda mais flagrante do momento decrépito da sociedade do que aquele novo programa da Teresa Guilherme), mensagens dum seu amigo(!) que aproveitava as novas tecnologias para iniciar o seu (primitivo) ritual de acasalamento, e a quem ela ridicularizava, lendo entre risos as deixas que o infeliz deixara como comentário às suas fotos sorridentes, e a sua réplica fria e seca, tornada pública a quem quer que consulte o seu perfil. O facto de eu conhecer o infeliz, que estratégica e honrosamente ocultei, fez-me despender cinco minutos do meu tempo para desabafar com o teclado.

A verdade, despida, sincera, é que temo tremendamente a subserviência da corte do homem. O curvar galante, submisso, inseguro, cheio de piadas fáceis e mornas (por conseguinte, estúpidas) politicamente correctas – não se vá ferir alguma susceptibilidade! – afigura-se perante mim como a mais patética condição masculina, a par com o suplício. Só o gatinhar comiserante perante a divindade feminina, soberba e toda-poderosa, precocemente emancipada (porque está, inegavelmente, no período de infância do seu estágio de igualização) pode ser tão ridiculamente redutor como o acto de implorar.

Depois de tantos anos duma condenável hegemonia masculina, corre-se agora o risco da tirânica ditadura feminina: crua, fria, impiedosa. É por isso que não corro atrás de mini-saias nem de mulheres de olhar errático nas discotecas. É por isso que nem sequer mudo de direcção se avisto alguma. Se o fizesse seria para tentar perceber carácteres enigmáticos, desafiantes para o meu modo subversivo. Mas de cada vez que agora lhes procuro o elemento transcendente captativo da minha atenção e devoção, sou ofuscado com batons berrantes, blush exagerado, unhas encarnadas, sandálias vistosas e malas espampanantes. Talvez a culpa seja minha, talvez sejam vítimas duma fácil descodificação, por força da minha tendência de tudo reduzir a estereótipos e generalizações...

13/10/2008

"A actual crise financeira tem multiplicado as reflexões de fundo sobre o sistema capitalista. Na maioria elas seguem uma teoria conspirativa, variante da luta de classes: existe uma elite que não só costuma explorar a massa do povo mas ainda gera estas terríveis convulsões com as suas imprudências. Tais ideias têm muito de verdade. São evidentes as fraudes, erros, crimes. Mas o mais dramático e curioso é que a crise não precisava disso para surgir. Ela pode acontecer mesmo sem qualquer falha, porque provém da natureza íntima do capitalismo.

A essência do nosso sistema económico é a liberdade de iniciativa. Cada um pode apresentar no mercado os produtos que quiser e, se forem preferidos pelos clientes, terá sucesso e prosperidade. Foi este sistema que gerou o incrível desenvolvimento da humanidade nos últimos dois séculos. Mas é também este mecanismo de experiência e tentativa, risco e atrevimento, que cria a instabilidade latente e recorrente na nossa vida. O tumulto não é acidente fortuito, mas elemento nuclear. Pode dizer-se que o capitalismo só floresce à beira do abismo.

O progresso nunca é ordeiro, calmo, planeado, mas uma permanente convulsão de criatividade e empreendimentos. Os sucessos são sobreviventes de muitas ideias que, apesar de boas e originais, ficaram pelo caminho. A coisa até corre mal mesmo quando corre bem.

Ainda alguém se lembra do Lisa, o computador que a Apple lançou em Janeiro de 1983? Era uma máquina impressionante, revolucionária, com novidades que perduram como o "rato", memória virtual, processamento múltiplo. Só que o pobre Lisa ficou na sombra do seu sucessor, o Apple Macintosh de Janeiro de 1984, que, esse sim, estabeleceu um padrão duradouro na tecnologia. Os desgraçados que compraram o Apple Lisa adquiriram um produto excelente mas logo obsoleto. São eles as vítimas do progresso.

Em grande medida é isso que está a acontecer no sector financeiro.

(...)

A este fenómeno têm de se juntar os elementos específicos do sector financeiro. Nas finanças lida-se directamente com moeda, que é uma responsabilidade directa do Estado. (...) Todas as instituições financeiras funcionam numa espécie de concessão pública. O Estado mantém-se o garante último do sistema monetário e tem poder absoluto sobre ele.

Por isso as recentes intervenções governamentais não são socialismo, keynesianismo, ou sequer intervencionismo. São do mais estrito e autêntico monetarismo. Foi Milton Friedman, supremo neoliberal, quem recomendou estas políticas para tratar crises deste tipo.

(...)

A raiva visceral de tantos à sociedade contemporânea tem aqui a sua justificação iniludível. Vivemos num mundo de prosperidade incomparável. Existe desigualdade, como sempre, mas muitos ganhos na medicina, comunicação, cultura e conforto até aos pobres beneficiam. Já nos esquecemos da terrível miséria antiga. Mas ao mesmo tempo experimentamos um clima ímpar de incerteza e instabilidade que nos assusta. Por isso, no meio dos benefícios, tantos se irritam e protestam. Só que abandonar o sistema por causa desses custos seria tão tonto como se o desgraçado que comprou o Lisa desistisse de usar computadores."

12/10/2008

09/10/2008

'Aquele que controla os outros tem força, mas aquele que se controla a si próprio tem o verdadeiro poder.'