'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






28/03/2010

17/03/2010

11/03/2010

'A universidade só iluminará o povo no dia em que lhe deitarem fogo.' Antero de Quental

Alma Nostra (terças-feiras, 23:12, Antena 1/ podcasts disponíveis em http://ww1.rtp.pt/multimedia/index.php?prog=1643) é arrebatadora, necessária e indesmentivelmente o melhor programa das rádios nacionais.

A sua elevação é manifesta. A minha atenção religiosa.

É por isso que a indelicadeza de alma que a seguir transcrevo - e que não surpreende, compreendendo-se que foi retirado do blog 31daarmada - não merece mais do que a brevidade do meu inteiro desacordo.

(é de sublinhar que o seguinte se trata de uma transcrição do blog 31 da armada, post de 15 de Abril de 2009, tal é o meu cuidado em não ser confundido com essas opiniões):

'Acabei de ouvir, no carro, o programa Alma Nostra, de Carlos Magno e Carlos Amaral Dias, na Antena 1.
Meia hora de referências, do género "li hoje no El Pais", "não sei se viu a capa do The Economist", de Fidel castro "que foi um homem que leu umas coisinhas", a "estrada de Santiago de Buñuel" e dos "descamisados de que eu gosto muito", etc.

No meio, Carlos Magno, refere a pintura (que vem na dita Economist) "não sei bem de quem é o quadro, se é do do Delacroix ou do Pierre-Henri David" da "revolução francesa", com os "sans-culotes ao lado a passarem por cima dos soldados de Napoleão" e a "marselhesa" no meio. Continuam a falar do outro quadro de "Pierre-Henri David" sobre "a morte de Marat na banheira, que está em Bruxelas". Mais ainda uma teoria "não há maior fenómeno de laicisação do que o quadro (de David da coroação) de Josefina, estão lá os padres todos mas quem a coroa, quem-se coroa é ele próprio". Ainda se falou de, no fim da monarquia, "aquela cobardia dos reis de França que aceitaram trocar a flor-de-lis pela tricolor", mas isso não mudou nada.


Quanto aos "sans-culotes", basta ver o senhor de casaca e chapéu alto (à esquerda da dita Marselhesa) para percebermos que quem seguia a Liberdade não eram só os operários ou os pobres e que a ideia é, exactamente, a contrária.

(...)

Já agora, dizer que Marat "morreu na banheira", sinceramente, é, no mínimo, desvalorizar o papel de Chalotte Corday no falecimente desse comichoso jornalista revolucionário.

São assim, as referências históricas do serviço público da rádio, tudo pelo amor aos descamisados.'

08/03/2010

'Apresentar-te aos deuses e deixar-te
entre sombra de pedra e golpe de asa.
Exaltar-te perder-te desconfiar-te
seguir-te de helicóptero até casa

dizer-te que te amo amo amo
que por ti passo raias e fronteiras
que não me chamo Mário que me chamo
uma coisa que tens nas algibeiras

lançar a bomba onde vens no retrato
de dez anos de anjinho nacional
e nove de colégio terceiro acto

pôr-te na posição sexual
tirar-te todo o bem e todo o mal
esquecer-me de ti como do gato'

Mário Cesariny, Londres, 1965
in Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica

(pontuação conforme original)