No espelho fleumático da imperturbável selva concreta, entardeço. De que serve a coroa, se não serve a mais ninguém?
Passaram dias, anos, minutos. Até que olhasse de novo ao redor. E o mais inquietante é o facto de usar essa dor na lapela do casaco como o charme de um viúvo amoldado, caminhando como o George Lamb mas sem os tiques demasiadamente efeminados e com a mesma dureza equivocada que a voz de um estranho num atendedor de chamadas, só por nunca ter compreendido como raio é que ela ali foi parar, semi-nua no quarto de outro qualquer.
Suponho que o blasé se estatifica na alma e a inconsequência nos actos quando não há mais nada que o silêncio mortificante do barulho ensurdecedor de todas as vozes excepto a sua.
A felicidade é um momento, tal como o nascimento, o golo, a garfada, em que mais nada importa. (Perdoe-se-me a ausência de concordância verbal em número, mas) a felicidade são aqueles lábios doces, tementes ao cieiro, furtivamente cedidos – deliciosamente humedecidos –. Creio que felicidade é a ilusão sucessória do antes, como a utópica interrupção da inexorável continuidade do tempo; é uma consequência e não um objectivo!
Onde estaríamos nós se não te amasse para sempre mas apenas até à próxima manhã? Provavelmente, no limbo impassível onde estou agora.
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