Jorge Fernando, Fado do Desalento
Odeio frequentemente a pessoa que sou. E sou um milhão de pessoas diferentes de um dia para o outro. Intelectualmente pedante, ofendo, debocho e ataco para, não raramente, mais tarde me contorcer com remorsos; a efemeridade das resoluções que tomo revelam-me que não tenho o mínimo sentido de mim. O meu medo primitivo é ser aquele que tento mudar, imutável, escrupulosamente imune. Temendo o sofrimento, sofro já aquilo que temo.
Mais do que a minha filosofia, mais do que o que escrevo, sou aquilo de que me tento libertar quando o faço. Sou os meus demónios – que tento exorcizar quando escrevo. Porque – tal como Eça – também creio que as cartas de um homem, sendo o produto quente e vibrante da sua vida, contêm mais verdade que a sua filosofia, que é apenas a criação impessoal do seu espírito. Uma vida que se confessa é objecto maior do intelectualismo, é a mais pura realidade humana: crua e egoísta, cheia de amor e de dor, saudade e orgulho.
A vida é um conjunto de acasos que se cruzam a que chamamos destino. O busílis da questão reside agora na dúvida da existência de um plano divinamente prévio, ou não passará tudo duma desordeira desilusão? Qual é a vida e qual é a morte, e qual delas vivo eu agora? Vivo: epifania gramatical do indicativo: eureka da minha prosa.
À escala do relógio solar, tomando como referência para a idade do planeta as vinte e quatro horas diárias, a passagem do Homem pela Terra só dura ainda há um segundo. A relatividade da nossa existência é arrebatadora. E depois de mim? O vácuo existente para além, o nada completo, a demoníaca paz. A resposta é titânica, a uma escala que não compreendemos. Não raramente tenho medo de descobrir a minha real índole; medo do meu destino ser bem maior que eu. Como posso eu morrer se correm por mim como rios tantas ideias, dúvidas, teorias, ânsias; extinguir-se-á com a morte toda a minha curiosidade, todo o meu infinito amor?
O que somos e a preponderância do nosso cunho na existência universal é irrisória. Nada do que eu faça significa. Só me resta o que eu sei e o que eu sinto agora. O eterno pensamento e o inacabável amor. Tudo mais são pormenores, rabiscos floreados num canto da breve sebenta que regista o sucedido entre o parto e o óbito. Resta-me a vontade e o consolo de fazer-lhe milhões de filhos, e em cada um deles amar um bocadinho dela. Porque nada mais somos senão efémeros. A nossa insignificância relativista é abismal. Qualquer coisa que alguém faça, por melhor ou pior que seja, é brutalmente indiferente. A impunidade não mais é senão inglória.
A vida é um conjunto de acasos que se cruzam a que chamamos destino. O busílis da questão reside agora na dúvida da existência de um plano divinamente prévio, ou não passará tudo duma desordeira desilusão? Qual é a vida e qual é a morte, e qual delas vivo eu agora? Vivo: epifania gramatical do indicativo: eureka da minha prosa.
À escala do relógio solar, tomando como referência para a idade do planeta as vinte e quatro horas diárias, a passagem do Homem pela Terra só dura ainda há um segundo. A relatividade da nossa existência é arrebatadora. E depois de mim? O vácuo existente para além, o nada completo, a demoníaca paz. A resposta é titânica, a uma escala que não compreendemos. Não raramente tenho medo de descobrir a minha real índole; medo do meu destino ser bem maior que eu. Como posso eu morrer se correm por mim como rios tantas ideias, dúvidas, teorias, ânsias; extinguir-se-á com a morte toda a minha curiosidade, todo o meu infinito amor?
O que somos e a preponderância do nosso cunho na existência universal é irrisória. Nada do que eu faça significa. Só me resta o que eu sei e o que eu sinto agora. O eterno pensamento e o inacabável amor. Tudo mais são pormenores, rabiscos floreados num canto da breve sebenta que regista o sucedido entre o parto e o óbito. Resta-me a vontade e o consolo de fazer-lhe milhões de filhos, e em cada um deles amar um bocadinho dela. Porque nada mais somos senão efémeros. A nossa insignificância relativista é abismal. Qualquer coisa que alguém faça, por melhor ou pior que seja, é brutalmente indiferente. A impunidade não mais é senão inglória.
1 comentário:
«before lolelyness will break my heart,
send me a postcard darling»
-------THE SHOCKING BLUE-----------
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