'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






26/03/2009

A Despersonificação da Virgem

Na baía do irresoluto, inopinadamente, encontrei-me feliz. Lugar comum de mim, do que figuro, ou ao alheio represento. Já faz tanto tempo. – Quanto tempo faz? – Um certo pudor impede-me de gritá-lo ao mundo, mas beijo a minha Mãe cada vez que por ela passo, telefono aos mais ine­­­­­­­­sperados, emprestando-lhes banalidades e até sorri a um estranho na rua. Ah se eu soubesse antes que os deuses pagãos caíram aos pés dos homens póstumos à sua Era, mas que o molde divinatório perduraria pela obscuridade dos séculos, chegando ao racionalismo em que hoje vivemos… E que a queda da Virgem não mais significa do que isso, porque a susceptibilidade do homem amar a Virgem viverá para sempre. A adoração não se centra no objecto, mas na capacidade de adorar. A devoção não é definição do devotado, mas do devoto. O sentimento não começa ou acaba na pessoa objectivada, o sentimento é um todo mutável e infinito na essência de quem o objectiva.
A musa não é condição do poeta, apenas descoberta da sensibilidade que lhe faculta a ninfalização do que lhe é envolvente.

1 comentário:

Anónimo disse...

"A adoração não se centra no objecto, mas na capacidade de adorar. A devoção não é definição do devotado, mas do devoto"

Self centered? lol