Duma magreza pomposa, descarnação de quem não vive para comer. Desavergonhada anorexia! – Ufana anoréctica passeando a sua opulenta escassez por entre os prostrados do alimento. Se soubesse como me seduz o cuidado por entre os grandes rabos e mamas dessa praia da vulgaridade.
– ‘A Perestrelo está com um bronze… Olha aquele biquíni!’.
E eu – tolo desalinhado, entre o céu e a duna, a mortalha e a sopa, envolvido por amigos que fazem filtros e despretensiosos comentários – não vejo a Perestrelo, nem as mamas uns metros abaixo, nem as coxas de ginásio da amiga da namorada do amigo; apenas me deixo cuidar pelo atrevimento dessa magreza no país dos enchidos e do cozido à portuguesa, pelo descabimento da brancura num país de sol, pelo pejo desse riso num país tão grosseiro, pelo andar distraído no país das aparências…
Duma brancura enferma, mas casta. Jactanciosa palidez! Ostenta-a por entre as reproduções aborígenes na trivialidade desse bar onde reina a congeneração e a resignação do que é e ao que é plebeu (a ordinariedade é circular como um calendário, monótona como as conversas suburbanas, contagiosa como a varicela num teatro cheio de miúdos).
Caminha vagarosa e majestática por entre a desatenção geral. Mas a minha está bem presa pelo freio, com as rédeas da soberba, por tudo o que não é saboreado pela boca insulsa, insípida das massas dissaboridas.
Pudera,
– não fosse o embaraço que os actuais laços já me trazem, e a inegável imaturidade para algo mais –
apreciá-la-ia sentado na cama onde dormia, deleitando-me da mesma forma como me deleitaria, assombrado de devoção, ao ver a minha rosa dormir – não fosse a sujidade da idade e a conspurcação do tempo –; e desenhá-la-ia, pintá-la-ia como Otto Dix; esculpi-la-ia como Rodin; dedicar-lhe-ia odes e poemas que falassem de azuis profundos, mitologias bíblicas, chuvas funestas; escrever-lhe-ia uma tragédia onde fosse Naiáde e Nereida, Afrodite e Alcmena… Para apenas reviver, desfalecendo, aquela ténue (e tremendamente volúvel) sensação que nos seda da pungente dor inalienável à vida e da molesta monotonia que nos tempera os dias malquistados – distracção tão imerecida como a Arte – mas que é crime da nossa classe, fulgor deste vanguardismo helénico, indumentado por uma languidez overdósica e adornado pela divagação tão fértil quão absurda, infamemente oprobriosa por jamais saciada.
– ‘A Perestrelo está com um bronze… Olha aquele biquíni!’.
E eu – tolo desalinhado, entre o céu e a duna, a mortalha e a sopa, envolvido por amigos que fazem filtros e despretensiosos comentários – não vejo a Perestrelo, nem as mamas uns metros abaixo, nem as coxas de ginásio da amiga da namorada do amigo; apenas me deixo cuidar pelo atrevimento dessa magreza no país dos enchidos e do cozido à portuguesa, pelo descabimento da brancura num país de sol, pelo pejo desse riso num país tão grosseiro, pelo andar distraído no país das aparências…
Duma brancura enferma, mas casta. Jactanciosa palidez! Ostenta-a por entre as reproduções aborígenes na trivialidade desse bar onde reina a congeneração e a resignação do que é e ao que é plebeu (a ordinariedade é circular como um calendário, monótona como as conversas suburbanas, contagiosa como a varicela num teatro cheio de miúdos).
Caminha vagarosa e majestática por entre a desatenção geral. Mas a minha está bem presa pelo freio, com as rédeas da soberba, por tudo o que não é saboreado pela boca insulsa, insípida das massas dissaboridas.
Pudera,
– não fosse o embaraço que os actuais laços já me trazem, e a inegável imaturidade para algo mais –
apreciá-la-ia sentado na cama onde dormia, deleitando-me da mesma forma como me deleitaria, assombrado de devoção, ao ver a minha rosa dormir – não fosse a sujidade da idade e a conspurcação do tempo –; e desenhá-la-ia, pintá-la-ia como Otto Dix; esculpi-la-ia como Rodin; dedicar-lhe-ia odes e poemas que falassem de azuis profundos, mitologias bíblicas, chuvas funestas; escrever-lhe-ia uma tragédia onde fosse Naiáde e Nereida, Afrodite e Alcmena… Para apenas reviver, desfalecendo, aquela ténue (e tremendamente volúvel) sensação que nos seda da pungente dor inalienável à vida e da molesta monotonia que nos tempera os dias malquistados – distracção tão imerecida como a Arte – mas que é crime da nossa classe, fulgor deste vanguardismo helénico, indumentado por uma languidez overdósica e adornado pela divagação tão fértil quão absurda, infamemente oprobriosa por jamais saciada.
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