E naquela manhã, ninguém morreu. Que ela soubesse, pelo menos. Nem no dia anterior, nem no que se lhe seguiu. Os crisântemos que carregava na mão murchavam como a sua fisionomia. A cada dia menos bonita, a cada dia mais velha, no rotineiro circular do mundo e das horas; e a cada ano que passava lhe pesava o cansaço na inversa proporção da esperança que lhe fugia.
Naquele cemitério de vazios e saudades, numa manhã em que o vento seco levantava a terra das campas que, lúgubre e aquosa, se lhe colava aos lábios húmidos, espreitou por entre dois mausoléus humildes e pareceu-lhe ver-me, sentado, prostrado, escrevendo, esmorecendo.
Como me lembro de a ver passar, na monotonia dos dias, carregando os seus crisântemos e as suas rosas e as suas mágoas pesando-lhe aos ombros. Caminhava com a ligeireza de quem quer passar entre a sentença do destino, com a audácia de quem foge a um sentimento, com a culpa de quem não sabe o que quer.
Danificada como eu, transtornada como eu.
Naquele cemitério de vazios e saudades, numa manhã em que o vento seco levantava a terra das campas que, lúgubre e aquosa, se lhe colava aos lábios húmidos, espreitou por entre dois mausoléus humildes e pareceu-lhe ver-me, sentado, prostrado, escrevendo, esmorecendo.
Como me lembro de a ver passar, na monotonia dos dias, carregando os seus crisântemos e as suas rosas e as suas mágoas pesando-lhe aos ombros. Caminhava com a ligeireza de quem quer passar entre a sentença do destino, com a audácia de quem foge a um sentimento, com a culpa de quem não sabe o que quer.
Danificada como eu, transtornada como eu.
Voltasse atrás e dir-lhe-ia, como a tantas outras, que lhe diria coisa alguma. Porque as palavras limitam-nos. Fossilizam o que é apenas efémero no não-destinado eterno.
A cada dia que passava espreitava como quem não acredita, por entre dois mausoléus de dor; e a cada dia mais bonita, e a cada dia a sua graça era maior.
E eu sonhava – porque tocar é realizar, e a realidade desaponta-me com a brevidade de um soluço – então sonhava. E às vezes atingia aquele anseio quase canibalístico e tortuoso que me não deixa sequer pensar.
Alheada como eu, mortificada como eu. Passa com a malha sombria que lhe dissipa a silhueta e com a mofina saia que lhe esconde a libido, mas lhe denuncia as pernas brancas e finas com a doce penugem escura, e com os calcanhares que tendem para dentro e lhe patenteiam um caminhar amoroso.
As minhas desusadas atracções revelam-se-me uma vez mais à medida que o órgão vomero-nasal lhe rapta as feromonas fugidias.
Inexplicável, incontornável. A congruência reside no insólito, e já tantas vez o expus às minhas repetidas amigas – quais cromos para troca! – parametrizadas pelo vulgar e forjadas pelo profano convencional, que agora mais se me assemelha a uma prelecção ponderada e artificial. Mas não o é! E, de tão farto que estou de depilações equivocadas, dietas malogradas, corpos postiços e trabalhados, cabelos pintados (e o kitsch que só pela profunda definição não lhe vale o privilégio de se dizer mais nada), tantos são os dias que, esticando-me, me tento agarrar ao que resta da minha identificação socio-cultural a este lugar…
As minhas desculpas. Os meus pêsames. Mas ela é a idealização do que me é edénico. Irreal como a vida, virtuosa como o sonho e fervente como só um sentimento pode ser.
Ela não existe.
A cada dia que passava espreitava como quem não acredita, por entre dois mausoléus de dor; e a cada dia mais bonita, e a cada dia a sua graça era maior.
E eu sonhava – porque tocar é realizar, e a realidade desaponta-me com a brevidade de um soluço – então sonhava. E às vezes atingia aquele anseio quase canibalístico e tortuoso que me não deixa sequer pensar.
Alheada como eu, mortificada como eu. Passa com a malha sombria que lhe dissipa a silhueta e com a mofina saia que lhe esconde a libido, mas lhe denuncia as pernas brancas e finas com a doce penugem escura, e com os calcanhares que tendem para dentro e lhe patenteiam um caminhar amoroso.
As minhas desusadas atracções revelam-se-me uma vez mais à medida que o órgão vomero-nasal lhe rapta as feromonas fugidias.
Inexplicável, incontornável. A congruência reside no insólito, e já tantas vez o expus às minhas repetidas amigas – quais cromos para troca! – parametrizadas pelo vulgar e forjadas pelo profano convencional, que agora mais se me assemelha a uma prelecção ponderada e artificial. Mas não o é! E, de tão farto que estou de depilações equivocadas, dietas malogradas, corpos postiços e trabalhados, cabelos pintados (e o kitsch que só pela profunda definição não lhe vale o privilégio de se dizer mais nada), tantos são os dias que, esticando-me, me tento agarrar ao que resta da minha identificação socio-cultural a este lugar…
As minhas desculpas. Os meus pêsames. Mas ela é a idealização do que me é edénico. Irreal como a vida, virtuosa como o sonho e fervente como só um sentimento pode ser.
Ela não existe.
Só existe na medida do que eu gosto, e do que não encontro. O romantismo é coisa pretérita na sociedade pragmaticamente descartável dos dias correntes. O objectivismo com que se analisa um sentimento, e a tibiez com que se pesa os prós e contras de uma emoção, substituíram os grandes actos dramáticos por Amor – que morreu, asfixiado, no vácuo moderno do companheirismo sexual.
6 comentários:
cada vez k leio os teus textos nao os consgio dissociar de kem os escreve.. pareceme sempre ke te “mascaras” de tristeza negrura e tedio pra no fundo tornares mais te tornares mais interessante :p
Pk n era tao interessante ler sobre uma vida de facilidades em todos os campos possiveis e imaginarios,pois n? qem te conhece sabe k es radicalmente o oposto
bem…"o poeta e um fingidor", la isso e verdade…ou sera um cobarde?k medo de ser feliz?n e a pior especie de cobardia? Conheces esta do teu “mais-k-tudo”? faz mais sentido k nunca :P http://www.youtube.com/watch?v=JY1QaDh0-hw
"Só existe na medida do que eu gosto, e do que não encontro."
"substituíram os grandes actos dramáticos por Amor – q"
a começarpor quem?
Ainda há quem apercie o romantismo e viva o amor como se encarnasse a personagem de um qualquer Romeu ou Julieta... mas não será certamente aquele que teme o sofrimento, e que se petrifica com receio de voltar a experienciar a dor outrora sentida.
São pessoas como tu que dão sentido e dignificam o mero "companheirismo sexual"...
Houve tempos em que serias capaz desses actos dramáticos de que falas...
Hoje, só sentes amor por ti mesmo, e todo o teu dramatismo é consumido pelas palavras que escreves..tornando os teus actos totalmente desprovidos de emoção...
M
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