‘Conheço muito bem os homens para ignorar que muitas vezes o ofendido perdoa, mas o ofensor não perdoa jamais.’ Rousseau
Adulaste-me ao ver-me descer na fermentação da escarpada desnivelação do nosso pensamento, emprestando ao que tocava o meu triunfo supremo? Pois por mais que me forçasse, esquecendo a baixa tolerância ao esforço, afectivo ou não, essa perpetuação assegura-se-me tão patética quanto a dúzia ou a meia dúzia. Existem dezenas, centenas, milhares, por aí fora. Não reconheço a legitimidade de uma unidade popular, reduzida à contagem de ovos numa mercearia qualquer. E agora vejo o turpor rebolando com a vulgaridade do anti-esteticismo, como o som dos Buraca som sistema (que uma força inata não me permite escrever com k) atravessando a sala de óculos escuros e um enorme logo da Quiksilver estampado com a incandescência do fluorescente mau gosto, magnetizador da minha estupefacção, prendendo-me o olhar longe do livro que me ocupa as mãos. Incivil, observo o casal que por mim passa até ao cúmulo da insolência. Ela, estudante universitária daquele rechonchudinho portuguesmente saudável, de cabelo amaciado e sorriso simples, desloca-se invisível na sua vulgaridade cuja virtude é ser sóbria, ao lado dum anormal que parece saído dum pódio da ‘Volta A Portugal Em Bicicleta’. No iPod, Richard Ashcroft repete-me algo que imprime uma justiça poética ao momento. E ele, alto, magro, com barba forte, daquela que é feita diariamente e ainda assim não esconde a cinzentude da cara, com grossos pêlos pretos nos finos braços, alardeando uns calções logo no primeiro dia de calor do ano, e com esse tipo de ténis de montanhismo timberland's ou merrel's que os meus conterrâneos insistem em adorar. Nada há de mais profundamente anti-estético do que ténis. Só talvez o som dos Buraca Som Sistema. Impelindo o cadáver pela lavoura de sensibilidades do CCB, não conseguia esconder aquele labreguismo de quem nasceu em Portalegre, Penafiel ou algo do género (salve a vénia ao Conde d’Abranhos) e com olhos torpes desafiava perfidamente o meu olhar estacado, nessa tarde de dia 11 de Março de 2009. E agora, ao relê-lo, embrumado no crepúsculo que me municia de temperança, embusteiramente distanciado por estas poucas horas que me acentuam a bipolaridade arrogância-remorso, logo me diluo na definição última de todo o meu intelecto e tradução inequívoca do meu transtorno narcísico – toda a minha Frustração. De nihilo nihil. Multatuli disse que todas as virtudes têm irmãs ilegítimas que desonram a família. E eu – desprimor de tudo quanto todos pensam de mim – mais não sou do que o strictissimae sensu da Frustração... e tudo daria em seu desfavor (até a fertilidade do pensamento ou a coroa da razão), para sentir a normalidade indulgente; e enfraquecer-me, perdoando; e purificar-me, esquecendo. Mas é esta a minha limitude: a constância repetitiva da derrota e da sua irremediabilidade. Sei que o perdão valer-me-ia apenas a honra do eterno ódio. Minto-me e fustigo-me com o ensino socrático segundo o qual aquela formosura que me colora os sonhos é uma tirania de curta duração. Anseio pelo tempo quente e abafado em que as sinapses no cortéx são menos frequentes e abunda a inibição neurotransmissora, onde não reste um sopro dessa perturbação de ânimo com nome de mulher que me é predilecção suprema, fausta, imprudente dos sentidos. Serei maior depois.
Adulaste-me ao ver-me descer na fermentação da escarpada desnivelação do nosso pensamento, emprestando ao que tocava o meu triunfo supremo? Pois por mais que me forçasse, esquecendo a baixa tolerância ao esforço, afectivo ou não, essa perpetuação assegura-se-me tão patética quanto a dúzia ou a meia dúzia. Existem dezenas, centenas, milhares, por aí fora. Não reconheço a legitimidade de uma unidade popular, reduzida à contagem de ovos numa mercearia qualquer. E agora vejo o turpor rebolando com a vulgaridade do anti-esteticismo, como o som dos Buraca som sistema (que uma força inata não me permite escrever com k) atravessando a sala de óculos escuros e um enorme logo da Quiksilver estampado com a incandescência do fluorescente mau gosto, magnetizador da minha estupefacção, prendendo-me o olhar longe do livro que me ocupa as mãos. Incivil, observo o casal que por mim passa até ao cúmulo da insolência. Ela, estudante universitária daquele rechonchudinho portuguesmente saudável, de cabelo amaciado e sorriso simples, desloca-se invisível na sua vulgaridade cuja virtude é ser sóbria, ao lado dum anormal que parece saído dum pódio da ‘Volta A Portugal Em Bicicleta’. No iPod, Richard Ashcroft repete-me algo que imprime uma justiça poética ao momento. E ele, alto, magro, com barba forte, daquela que é feita diariamente e ainda assim não esconde a cinzentude da cara, com grossos pêlos pretos nos finos braços, alardeando uns calções logo no primeiro dia de calor do ano, e com esse tipo de ténis de montanhismo timberland's ou merrel's que os meus conterrâneos insistem em adorar. Nada há de mais profundamente anti-estético do que ténis. Só talvez o som dos Buraca Som Sistema. Impelindo o cadáver pela lavoura de sensibilidades do CCB, não conseguia esconder aquele labreguismo de quem nasceu em Portalegre, Penafiel ou algo do género (salve a vénia ao Conde d’Abranhos) e com olhos torpes desafiava perfidamente o meu olhar estacado, nessa tarde de dia 11 de Março de 2009. E agora, ao relê-lo, embrumado no crepúsculo que me municia de temperança, embusteiramente distanciado por estas poucas horas que me acentuam a bipolaridade arrogância-remorso, logo me diluo na definição última de todo o meu intelecto e tradução inequívoca do meu transtorno narcísico – toda a minha Frustração. De nihilo nihil. Multatuli disse que todas as virtudes têm irmãs ilegítimas que desonram a família. E eu – desprimor de tudo quanto todos pensam de mim – mais não sou do que o strictissimae sensu da Frustração... e tudo daria em seu desfavor (até a fertilidade do pensamento ou a coroa da razão), para sentir a normalidade indulgente; e enfraquecer-me, perdoando; e purificar-me, esquecendo. Mas é esta a minha limitude: a constância repetitiva da derrota e da sua irremediabilidade. Sei que o perdão valer-me-ia apenas a honra do eterno ódio. Minto-me e fustigo-me com o ensino socrático segundo o qual aquela formosura que me colora os sonhos é uma tirania de curta duração. Anseio pelo tempo quente e abafado em que as sinapses no cortéx são menos frequentes e abunda a inibição neurotransmissora, onde não reste um sopro dessa perturbação de ânimo com nome de mulher que me é predilecção suprema, fausta, imprudente dos sentidos. Serei maior depois.
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