'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






14/07/2008

Dissertação sobre o diletantismo

O problema do diletantismo e da boémia reside no facto de nunca se parar. Entre copos e jantares, festas e gente ebriamente eufórica, calor e tardes na praia não há espaço para pensar. A mente ocupada vagueia pelas vivências triviais como uma terapia a que ela própria se impõe. Quando se pára pensa-se na vida, por onde se foi e por onde se teria ido. A morte da bezerra é aqui tranquilizante eufemismo. Pensar não dói. Pensar faz doer. Pensar reboca lentamente uma alma pesada encravada no pretérito imperfeito do conjuntivo. Pensar conduz-nos ao resígnio epopeico do romeiro: '-Ninguém!', e à sua epifânica glória.

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