O ódio, pelo ódio existe. Sartre teoriza que existe apenas a relação Eu, enquanto sujeito, versus Não-eu, o objecto. O meu olhar transforma o outro em objecto ou sou transformado em objecto pelo olhar do outro. O mundo objectual só pode ter valor se eu lho atribuo. Para odiar, tenho que valorizar. Daí que não seja desprezista em relação ao que odeie, pois para isso o objecto seria-me indiferente.
Há o ódio visceral, como o de Almada Negreiros, obscuro, vingativo, agachado na sombra duma esquina. Há o ódio cínico, amarelado, ódio que reprime. O ódio mostra aqui o que o amor oculta. Há, por fim, o ódio do momento, espontâneo e irreflectido, nervoso e cego.
Destarte, é possível afirmar que o ódio está intíma e irremediavelmente ligado com a humanidade do Homem. Aquele que nunca odiou é frio, calculista, impenetrável, desumano. Os animais não odeiam, pois não sentem, não têm expectativas, auto-estima ou reflexo de personalidade. O animal irracional é o único espectador da sua própria conduta, e a única criatura que zela por si; logo, não se compara aos outros, nem por eles é ofendido nas suas acções. O chacal cuja carcaça é roubada pelo leão não o passa a odiar.
O exposto leva-me a crer que o elemento ofensivo, e por conseguinte gerador do ódio humano, não é a acção ofensiva em si, mas sim a falta de consideração que ela própria comporta. Ou seja, não é o mal per si que gera o ódio, sendo pelo contrário o desprezo em relação à pessoa do ofendido patente na intenção de prejudicar. Assim sendo, penso que posso também silogisticamente afirmar que aquele que menos odeia é aquele que possui a auto-estima menos elevada, por se ter em menor consideração e dificilmente se ofender.
14/07/2008
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