Imaginemos que certa assembleia se compõe de 55 membros e que apenas 54 efectivamente votam. Seria assim fácil demonstrar em que situação aconteceria o empate, dentro do critério de dois terços. Denominamos X como o número de votantes do grupo maior e Y o número componente do grupo menor (grupos que somados perfazerão 54). Ora, para que ocorra um empate, deveremos ter:
1/3 X = 2/3 Y
Obteremos, desse modo, uma equação com duas incógnitas, sabendo que a soma das incógnitas x+y é igual a 54. É, por conseguinte, lógica e matematicamente possível o seguinte sistema:
1/3 X = 2/3 Y
x + y = 54
que, depois de resolvido, nos apresenta X como 36 e Y como 18, resultado que representa matematicamente um empate dentro do critério dos 2/3. Não há, assim sendo, dúvidas que um voto decide, mesmo que o grupo menor varie de 0 a 18!
24/04/2009
'La Liberté Guidant Le Peuple', Eugéne Delacroix,
1830, huile sur toile, Musée du Louvre, Paris.
Eugéne Delacroix, o mais sugestivo dos pintores, odiava multidões, apavorava-se com o turpor revolucionário da época a que emprestou a sua existência, e abominava qualquer tipo de euforia popular. Todavia criou a única pintura revolucionária a ser catedratizada como uma obra de arte.
Nas suas palavras: (tradução livre) 'O maior inimigo da pintura é a cinzentude. De facto, não existem luzes ou sombras. Há apenas uma cor massiva para todos e em cada objecto, reflectindo-se diferentemente em cada ângulo dos mesmos. (...) Sem audácia, sem extrema audácia, não há beleza. Urge ousar para ser único. Não há regras para as grandes almas: as regras são para aqueles que meritoriamente têm um talento que pôde ser adquirido - e não para os génios... Os efeitos mais sublimes não são resultados de licenças pictóricas. Por exemplo, a aparência inacabada dos trabalhos de Rembrandt ou o exagero de Rubbens. Os homens medíocres nunca o ousariam fazer; eles nunca se ultrapassam a eles mesmos. O método não pode ser regra para tudo, apenas pode guiar um homem banal até certo ponto.'
onde vé a velocidade da luz e m a massa da onda, c a intensidade da onda et o preciso instante temporal em que rebenta, x o espaço e alfaé a sua personalidade - o seu movimento linear (vulgo 'balanço' entre massa e velocidade)... cada alfa profetiza a imprevisibilidade do aleatório (!), em milhoes de sistemas de matrizes como:
Do you know me? I don't think so! You romanticize the dark and gloomy past Trying to escape from the underclass You darkened the bright and beautiful day You're breaking my heart in every way And tell me everything is dandy and fine You're no friend of mine
I took you in and you stole from me But you still got everything I need You're walking so tall, you're looking so mean You're walking so tall, you're looking so mean But you tell me everything is dandy and fine You're no friend of mine
Do you know me? I don't think so! Do you know me? I don't think so! You romanticize the dark and gloomy past Trying to escape from the upper class You darkened the bright and beautiful day You're fucking up my head in every way And tell me everything's dandy and fine
09/04/2009
Embalado pela demente inconveniência, não me recordo de alguma vez ter sabido parar, submerso na febril hilaridade dos loucos a quem os sábios narcísicos epitetaram de génios. Porquê parar? Porquê a cura, a terapia e a imitação? Porquê a redenção, se assim me amo, e se assim sou amado, e se - apesar de não amar - nada me asseverar que, vulgar fosse, comum amaria?
Não páro porque não me vulgarizarão na simpatia ou sensatez - não serei o vaso encantado da minha rosa. Qualquer cena é obscena no espectáculo de horrores desse promíscuo folclore em que não alinho e cujo breve visionamento me metamorfizou num céptico, metaforicamente porventura o maior cliché de todos.
A normalidade é a ausência da alma. Essa rendição à convenção é o enterro do individualismo, padronização da virtude desavinda; e a similitude da espécie vaticina uma certa sensibilidade colectiva (o que significa sensibilidade alguma).
Cada homem morre quando deixa de ser criança, e os que não deixam são as temerárias formigas de rumo oposto ao carreiro de matilhas ordeiradas nos supermercados ou na consuetudinária fila do Lux - todos os corpos aspirando à irresolução de campas, caixões e mausoléus iguais, com relvas e flores indistintas...
Mas livres são as almas! E a sensibilidade é o velcro despreendido dos que nunca cresceram (ou não souberam parar). É nessa libertação estigmatizante dos sentidos que se percebe que quando todo o mundo é grosseiro e coxo, a elegância e o belo porte se tornam a Enfermidade. Quando o feio impera, o belo é Monstruoso.
'Sábio é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem um privilégio de maravilha. O caçador de leões não tem aventura para além do terceiro leão. Para o meu cozinhiero monótono uma cena de bofetadas na rua tem sempre qualquer coisa de apocalipse modesto. Quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte. O viajante que percorreu toda a terra não encontra de cinco mil milhas em diante novidade, a velhice do eterno novo, mas o conceito abstracto de novidade ficou no mar com a segunda delas.'
Ao reparar que a gravidade não afecta de igual modo todas as mulheres, deixei a atenção sumir-se por entre esses movimentos tão vacilantes quão firmes, deslumbrado com tanta naturalidade de ser. Já são tantos os anos em que aceitei o dogma da naturalidade ser uma pose – talvez a mais pretensiosa de todas – que agora a reticência ensombra-me sempre que a admiro, como um beato ao ler Marx, e abalando-me a crença, inundando-me de redefinições, para de imediato me resfriar em cepticismo, encarando-a como o bluff exímio. Nada há que me fascine mais em tudo o que existe do que a naturalidade de se ser. Algo perfeito só pode ser estudado, imitado, trabalhado à exaustão, traindo a sua própria designação, como tudo o que tem a graça humana. Mas às vezes iludo-me e sorrio.
Deixo os anos colorirem-se com a sinceridade dum sopro de tudo o que É, breve e real. Nunca penso muito nos que ofendo, nem como os ofendi. Sempre mo perdoaram; nunca o questionei. O porquê era redutor... Mas quantas manhãs, na coruta da terna anamnese, revivo o abraço absolvente, naquela cama da batalha, depois das crueldades despojadas sobre si. Como o pôde perdoar, ou como esquecerei que o perdoou?
Mesmo tendo perdido a graça, caindo em desgraça, vivo sempre em estado de graça.
'Uma nova civilização está a surgir nas nossas vidas, e indivíduos cegos, espalhados por toda a parte, tentam suprimi-la. Esta nova civilização traz consigo novos estilos de família; modos diferentes de trabalhar, amar e viver; novos conflitos políticos; e por detrás de tudo isso, estados alterados de consciência (...). O nascimento dessa nova civilização é o facto mais explosivo e singular dos nossos tempos.É o evento central, a chave para compreender os anos que estão por vir. É um acontecimento tão profundo como a Primeira Onda de mudanças lançada há dez mil anos com a invenção da agricultura, ou a estrondosa Segunda Onda iniciada pela revolução industrial. Nós somos as crianças da próxima transformação, a Terceira Onda.'
Timothy Leary inA Experiência Psicodélica: Um Manual Baseado no Livro Tibetano dos Mortos
Il faut être toujours ivre! Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir L'horrible fardeau du Temps Qui brise vos épaules Et vous penche vers la terre, Il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise… Mais enivrez-vous. Et si quelquefois, Sur les marches d'un palais, Sur l'herbe verte d'un fossé, Dans la solitude morne de votre chambre, Vous vous réveillez, L'ivresse déjà diminuée ou disparue, Demandez au vent, À la vague, À l'étoile, À l'oiseau, À l'horloge, À tout ce qui fuit, À tout ce qui gémit, À tout ce qui roule, À tout ce qui chante, À tout ce qui parle, Demandez quelle heure il est; Et le vent, La vague, L'étoile, L'oiseau, L'horloge, Vous répondront: ‘Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, Enivrez-vous; Enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise.’
(tradução livre)
Urge a constante intoxicação. Aí está: é esta a única premissa. Para fugir ao fardo horrível do Tempo Que te verga e empurra para a terra, É preciso intoxicares-te sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, poesia, virtude, à escolha… Mas inebria-te. E se, porventura, Nos degraus de um palácio, Sob a relva verde de um fosso, Na solidão morna de um quarto, A ebriedade tiver diminuído ou desaparecido ao acordar, Pergunta ao vento, À vaga, À estrela, Ao pássaro, Ao relógio, A tudo o que flui, A tudo o que geme, A tudo o que gira, A tudo o que canta, A tudo o que fala, Pergunta-lhes que horas são; E o vento, A vaga, A estrela, O pássaro, O relógio, Responderão: ‘É hora de te intoxicares! Para não seres o escravo martirizado do Tempo, Inebria-te; Intoxica-te sem nunca parar! De vinho, de poesia ou de virtude, à tua escolha.’
' Everywhere I go people say:
"Who's that funny guy? All he does is hang head down and cry..."
(Sometimes I moan, sometimes I moan...) '
'(...)E serão tanto menos infelizes quanto mais medíocres forem.' Eugène Delacroix