'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






16/02/2009

O Elogio da Antipatia - Parte III de IV

III – As Acepções Adulteradas e A Desvantagem Popular

O problema das terminologias são os sentidos estigmatizados que, força da ‘girialização’ da linguagem, por via duma mecanização do discurso, e duma automatização das expressões, vão surgindo como pejorativos ou abonatórios. Afigura-se como óbvio que, quando elogio a antipatia não me refiro à má educação, rudeza ou aspereza de feitio. Antipatia é, pelo contrário, uma ausência de empatia pelos desconhecidos que connosco se cruzam – simplesmente porque não tem que existir; o indivíduo mais não tem que fazer senão respeitar o ‘espaço cívico’ do próximo, a sua privacidade e a sua esfera.

Naturalmente que a cortesia e a amabilidade são valores máximos do civismo, e que nada têm a ver com simpatia.
Simpatia é o que o povo tinha e tem por Salazar, é a amizade pelo vizinho que se espreita, é o imiscuir na vida alheia, o abelhudismo que é moeda nacional e o sentimento do ‘coitadinho’, bandeira hasteada no cume da lusitana mesquinhez; é a saudade, é ‘a minha humilde casinha, num modesto 1º andar’, e o ‘se há porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente’; são os beijinhos e as palmadinhas nas costas, os sorrisos gratuitos e as modéstias indistintas; é a labrega e inconveniente ofertação de partilha e o consequente abuso de confiança; é o ‘santinho!’, ‘bom apetite!’ e ‘com licença, vou rasgar uma folha’ e é o ‘estás bom? – vai-se andando…’; é falar de mais e não atentar nas palavras, é desprover de significado e desgastar a língua egrégia, é provérbio e esperteza atónita; é morrer ignorante – pequeno tal como se nasceu; é comodismo e absentismo, é o desalento e o desencanto, é o costume e a moda, a tradição que não é nova que é sempre o que já era, é a Era que não renova, é chumbar sempre na mesma prova; é rir sem saber de quê, é o que eu vejo mas ninguém vê. E é abuso, grosseirismo obtuso e desuso, aos olhos de todos, menos da quimera do nobre povo luso.
Cada pessoa tem direito ao seu individualismo que só pode ser atingido plenamente com uma moderna noção de comunidade que já nada tem a ver com a realidade aldeana e saloia do século passado, mas com um respeito máximo pelo próximo que começa por não importunar a sua pessoa.

A mediocridade do povo enquanto classe social é, a meu ver, essencialmente demonstrada a dois níveis: o primeiro é o do seu profundo desinteresse (globalmente considerado) que resulta necessariamente numa opacidade espiritual; o segundo através duma infernal falta de educação e civismo.
Como tenho vindo a defender até aqui (mormente noutros textos como Mentecaptidão de um Povo e A Responsabilização da Burguesia), no âmbito do primeiro aspecto o povo encontra-se em paridade com classes sociais mais elevadas, padecendo ambos duma profunda mentecaptidão, manifestando-se subjectivamente em pessoas desinteressantes e na pequenez intolerante com que abordam as questões. Aqui, como disse antes, nada pode ser reprovável em relação ao povo, essa classe infantil, que não teve espaço para se desenvolver, e é altamente criticável em relação à burguesia, que só mais não fez por força duma (genética?) inelasticidade mental.
Mas é no segundo aspecto referido que as classes mais informadas levam a grande vantagem. É que, apesar de a grande maioria possuir a mediocridade espiritual do povo, gozam de uma polidez incomparavelmente superior à deste, onde esta é quase nula. E a diferença é abismal, pois a delicadeza é uma virtude inafastavelmente basilar para a convivência social. Eu não me disponibilizaria nunca a uma discussão com alguém que bradasse ou revelasse qualquer fervilhação bárbara. Pois as pessoas que facilmente se exaltam rapidamente perdem a razão, precipitando-se, e por conseguinte, revelando uma incoerência argumentativa, o que leva a que não demonstrem os seus pontos de vista, mas sim aqueles a que, imponderadamente, o momento os conduziu
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1 comentário:

Anónimo disse...

civismo educaçao superioridade espiritual?
haaa (pensando) ah! ja sei


SE tu visses o que eu vi-i-i-i
NUM certo festivaal-al-al-al
O pinto todo jardaaado-o-o-o
A meter papelinhos, emes e alcool que nem um animaaal-al-al-al



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