'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






16/01/2009

Ao Santos

A (recente) guerra de perfis que temos vindo a observar neste meio levou-me a visitar o teu. Espantado por te definires como lisboeta, ofendido pelo ultraje da usurpação, decepcionado pelo esquecimento das origens, compus alguns versos populares (à la António Aleixo) dedicados a ti, a que fraternalmente chamei:

Santos Se Desprezas Tua Raíz, É Porque Te esqueceste De Como Foste Feliz

Santos, o petiz tímido
Que à escola ia, contrariado.
Ninguém brincava com este menino,
de ar pálido e enjoado.

Santos, o adolescente esquisito,
à sua terra sempre renegou.
Sentava-se na estação, a ouvir o apito
Do comboio em que um dia abalou.

Santos, o beirão recém-chegado
À minha Lisboa, terra do fado:
Nunca disse 'esposa', 'falecer' ou 'derivado',
'Deu por ele', já estava integrado.

Santos, Homem de Seia!
Reclama o que 'tem para si' como seu.
Branca? Nunca mais foi a sua meia,
Ele é maior do que a terra em que nasceu!

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