‘Uma forma de o medíocre convencido imitar a grandeza é não dizer mal de ninguém.’ Vergílio Ferreira
As classes ociosas de uma nação sempre foram a vanguarda do pensamento humano. Só as hostes da languidez poderiam, através dos seus métodos diletantes e lentos, ponderar as reacções do homem com o meio envolvente. Exigir-se reflexão e pensamento abstracto às massas é tão egotista quanto exigir-se a um padre que saiba lutar. As massas estão tão embrumadas na sua luta mensal pela sobrevivência sócio-económica que lhes não pode ser exigida a meditação e cultivação que procuram aqueles que não precisam de trabalhar tanto.
A visão humana, peculiarmente, só alcança na proporção na própria abertura de espírito. É por isso que as classes mais baixas abusam tanto do sal nos cozinhados – porque a sua vivência não lhes deu acesso a outro tipo de condimentos; e por que a classe média come muito mais carne do que peixe, e mais hidratos de carbono do que vegetais – porque esse tipo de informação não foi cultivado, estando demasiadamente ocupados com o trabalho de modo a suportar as prestações e contas para poderem ainda desenvolver preocupações alimentares elitistamente a longo prazo.
Todavia as classes mais elevadas não estão, de forma alguma, isentas à crítica. Conquanto que em relação à classe média e à classe mais baixa é condenável qualquer tipo de pedantismo intelectual, pelo demonstrado no exemplo supra, já no que toca àqueles que mais recursos têm, e, por conseguinte, mais tempo, mais qualidade de vida e mais acesso à cultura, é inqualificavelmente reprovável o desprezo demonstrado pelo pensamento e enriquecimento espiritual.
Almada Negreiros escreveu: ‘O que os burgueses portugueses têm de pior que os outros é o facto de serem portugueses! ’. De facto, aqueles que detêm maior parte do capital estão intoxicados pelo turpor da ostentação, pelo consumismo compulsivo, pelo mau-gosto do exagero, pelas irrequintadas cores berrantes do mundanismo. O consolo dos que da mediocridade padecem é o facto do génio alheio não ser imortal.
A globalização do conceptualismo segundo o qual as drogas encerram um em si não mais do que um escape, contribui unicamente para a exacerbação das limitudes da grande maioria dos que as consomem. Numa conversa com um amigo recentemente licenciado em psicologia formulei a concepção segundo a qual as pessoas que consomem drogas se dividem em dois tipos, para efeitos socializantes: por um lado, os que gostam de conversar desenvoltamente, expandir raciocínios mesmo, por vezes, sozinhos, de modo a conhecer melhor a sua mente; por outro, a maioria, aqueles em que o consumo surge como mero analgésico, receando pensar, estar sozinhos, conversar longamente, limitando-se à obsessão pela música, entrando assim em autêntica dissociação com o que os rodeia, revelando medo de si próprios, e uma profunda mentecaptidão.
E o tempo, amachucado, é deitado fora por via de entretenimentos energúmenos. Convivem cada vez menos: as discotecas são o exemplo paradigmático de como pertencemos a uma geração cujo divertimento de eleição é permanecer horas enclausurado num armazém bafiento e enfumarado, com ensurdecedora música comercial, reduzindo a comunicação a breves gritos ao ouvido dos demais.
Os recursos são gastos de forma a terem um carro mais alemão do que o colega. Consomem, quotidianamente, de uma forma que não pode deixar de ser qualificada como camaleónica: capazes de despender certa quantia por um pull-over Ralph Lauren, optam pelos preços solidarizantes do Lidl para as compras da semana; adquirem sempre o último modelo das novas tecnologias, seja um telemóvel com navegação por satélite ou um LCD de última geração com leitor de blue-ray, mas são incapazes de comprar um fabuloso queijo Havarti ou a raridade fumada do salmonete.
As classes ociosas de uma nação sempre foram a vanguarda do pensamento humano. Só as hostes da languidez poderiam, através dos seus métodos diletantes e lentos, ponderar as reacções do homem com o meio envolvente. Exigir-se reflexão e pensamento abstracto às massas é tão egotista quanto exigir-se a um padre que saiba lutar. As massas estão tão embrumadas na sua luta mensal pela sobrevivência sócio-económica que lhes não pode ser exigida a meditação e cultivação que procuram aqueles que não precisam de trabalhar tanto.
A visão humana, peculiarmente, só alcança na proporção na própria abertura de espírito. É por isso que as classes mais baixas abusam tanto do sal nos cozinhados – porque a sua vivência não lhes deu acesso a outro tipo de condimentos; e por que a classe média come muito mais carne do que peixe, e mais hidratos de carbono do que vegetais – porque esse tipo de informação não foi cultivado, estando demasiadamente ocupados com o trabalho de modo a suportar as prestações e contas para poderem ainda desenvolver preocupações alimentares elitistamente a longo prazo.
Todavia as classes mais elevadas não estão, de forma alguma, isentas à crítica. Conquanto que em relação à classe média e à classe mais baixa é condenável qualquer tipo de pedantismo intelectual, pelo demonstrado no exemplo supra, já no que toca àqueles que mais recursos têm, e, por conseguinte, mais tempo, mais qualidade de vida e mais acesso à cultura, é inqualificavelmente reprovável o desprezo demonstrado pelo pensamento e enriquecimento espiritual.
Almada Negreiros escreveu: ‘O que os burgueses portugueses têm de pior que os outros é o facto de serem portugueses! ’. De facto, aqueles que detêm maior parte do capital estão intoxicados pelo turpor da ostentação, pelo consumismo compulsivo, pelo mau-gosto do exagero, pelas irrequintadas cores berrantes do mundanismo. O consolo dos que da mediocridade padecem é o facto do génio alheio não ser imortal.
A globalização do conceptualismo segundo o qual as drogas encerram um em si não mais do que um escape, contribui unicamente para a exacerbação das limitudes da grande maioria dos que as consomem. Numa conversa com um amigo recentemente licenciado em psicologia formulei a concepção segundo a qual as pessoas que consomem drogas se dividem em dois tipos, para efeitos socializantes: por um lado, os que gostam de conversar desenvoltamente, expandir raciocínios mesmo, por vezes, sozinhos, de modo a conhecer melhor a sua mente; por outro, a maioria, aqueles em que o consumo surge como mero analgésico, receando pensar, estar sozinhos, conversar longamente, limitando-se à obsessão pela música, entrando assim em autêntica dissociação com o que os rodeia, revelando medo de si próprios, e uma profunda mentecaptidão.
E o tempo, amachucado, é deitado fora por via de entretenimentos energúmenos. Convivem cada vez menos: as discotecas são o exemplo paradigmático de como pertencemos a uma geração cujo divertimento de eleição é permanecer horas enclausurado num armazém bafiento e enfumarado, com ensurdecedora música comercial, reduzindo a comunicação a breves gritos ao ouvido dos demais.
Os recursos são gastos de forma a terem um carro mais alemão do que o colega. Consomem, quotidianamente, de uma forma que não pode deixar de ser qualificada como camaleónica: capazes de despender certa quantia por um pull-over Ralph Lauren, optam pelos preços solidarizantes do Lidl para as compras da semana; adquirem sempre o último modelo das novas tecnologias, seja um telemóvel com navegação por satélite ou um LCD de última geração com leitor de blue-ray, mas são incapazes de comprar um fabuloso queijo Havarti ou a raridade fumada do salmonete.
O que se consegue de borla custa demasiado.
John Keynes condenou-nos: ‘a longo prazo, todos estaremos mortos ’.
1 comentário:
Não podia deixar de comentar esta ideologia. Primeiramente, sinto o impeto a reformular a causa. A burguesia não será a classe responsabilizavel para a crescente estupidificação das massas. Atento ao circunstancialismo de ter nascido por meados do sec XII consequencia do surto comercial (sabendo que o povo sem mente já cá estava), e não ser a "classe" predominante desde que o Homem julgou ser possivel deter a consciencialização que nao orientada pelo conhecimento profundo ou mesmo ate por via de uma banal ponderação; falo do catolicismo. O clero no fundo, foi um pobre com muita muita sorte. Ainda hoje me inspira uma particular comiseração sobretudo pela casta sem taninos.O clero nunca serviu para absolutamente nada: não é a base de uma estrutura societaria piramidal, não é o topo porque lhe falta o sangue, muito menos será o meio porque está 'perto do céu'. Tomou o estatuto indigente como seu ab initio, e daí foi apenas rebolar pelo medo da morte.São monarcas de um outro reino. Esses sim, mercenarios d embrutecimento, do fomento a tal.
Quanto às drogas, só da particular opiniao que podem servir para os dois momentos, depende somente da ocasiao: nao julgo ser plausivel fazer a divisoria com essa nitidez
"If you gaze for long into an abyss, the abyss gazes also into you."
Friedrich Nietzsche
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