O peso da minha existência, com o qual carrego desde que plenamente Sou, fere-me ocasional e inesperadamente com os cortes ardentes da angústia impotente. Como podemos rir e chorar, descontrair e esperar, se um dia morreremos e se esse será, porventura, o fim? Não concebo o vácuo da inexistência. Nem a eternidade asfixiante. Inexistir para sempre? Eternidade é uma palavra demasiado grande para mim. Os meus estreitos conceitos, limitados pela minha condição humana e inerente compreensão, não abarcam a titânica acepção do termo.
E nós, agora? Estes breves momentos em que contemplamos o dom de Ser são a nossa aparição divina. Eu e tu somos os actores dum palco maior, num preciso momento e exacto lugar da magnífica Concepção. Este é o nosso estado de graça, somos salteadores do Tempo, crescendo, vivendo, e, insignificantemente hegemónicos, pseudo-dominando épocas e ecossistemas. Somos os privilegiados espectadores da vida e do momento, sempre tementes do seu trágico desfecho, expectantes do póstumo desígnio. Ou então somos dançarinos do grande orquestra celeste, ou equações químicas resultantes de milhões de condicionantes e processos passados. Ou somos dois figurantes num estúpido argumento dum filme de segunda. Por muito que eufemística ou misticamente perspectivemos, embelezados, a razão, certo é que morreremos. Tu e eu.
Passado. Não mais é do que o futuro, usado. Futuro doutrora, e doutros. Que morreram. Mas já eles tiveram onde nós estamos. E também eles riram, triunfaram, falharam, desperdiçaram o seu tempo no teatro da existência ou então conseguiram coisas fantásticas e viveram vidas fabulosas. Também tiveram filhos, protegeram-nos e amaram-nos, sofreram quando enterraram os pais e hesitaram em dúvidas sobre o fim. E preencheram os dias com amor, esse sentimento infernalmente supremo, tendo provado da sua depressão e euforia, saboreado e aprendido a definição de pleno. Cantaram lamechices românticas, veneraram pormenores insípidos e juraram amor eterno. E hoje, todos eles estão mortos.
A minha arrítmica obsessão de tempo desperdiçado impera: como ser, e para quê ser, presumindo que tudo é efémero e inglório. Interiorizo as definições de vão e finitude e isso assusta-me mais do que tudo. É a nossa própria mortalidade que nos mortifica em vida. O receio da morte nos falar com voz profunda para, no fundo, nada nos dizer… A morte esconde-se nos relógios, na penumbra quase inteligível dos carrascos ponteiros. O único consolo é crer que esta terá mais segredos a revelar que a própria vida. Ou então esperar que, quando o derradeiro momento se aproximar, estejamos demasiado velhos e cansados para atingirmos a sua trágica dimensão. Memento mori. Be mindful of death. Consciencializa-te da tua morte.
E nós, agora? Estes breves momentos em que contemplamos o dom de Ser são a nossa aparição divina. Eu e tu somos os actores dum palco maior, num preciso momento e exacto lugar da magnífica Concepção. Este é o nosso estado de graça, somos salteadores do Tempo, crescendo, vivendo, e, insignificantemente hegemónicos, pseudo-dominando épocas e ecossistemas. Somos os privilegiados espectadores da vida e do momento, sempre tementes do seu trágico desfecho, expectantes do póstumo desígnio. Ou então somos dançarinos do grande orquestra celeste, ou equações químicas resultantes de milhões de condicionantes e processos passados. Ou somos dois figurantes num estúpido argumento dum filme de segunda. Por muito que eufemística ou misticamente perspectivemos, embelezados, a razão, certo é que morreremos. Tu e eu.
Passado. Não mais é do que o futuro, usado. Futuro doutrora, e doutros. Que morreram. Mas já eles tiveram onde nós estamos. E também eles riram, triunfaram, falharam, desperdiçaram o seu tempo no teatro da existência ou então conseguiram coisas fantásticas e viveram vidas fabulosas. Também tiveram filhos, protegeram-nos e amaram-nos, sofreram quando enterraram os pais e hesitaram em dúvidas sobre o fim. E preencheram os dias com amor, esse sentimento infernalmente supremo, tendo provado da sua depressão e euforia, saboreado e aprendido a definição de pleno. Cantaram lamechices românticas, veneraram pormenores insípidos e juraram amor eterno. E hoje, todos eles estão mortos.
A minha arrítmica obsessão de tempo desperdiçado impera: como ser, e para quê ser, presumindo que tudo é efémero e inglório. Interiorizo as definições de vão e finitude e isso assusta-me mais do que tudo. É a nossa própria mortalidade que nos mortifica em vida. O receio da morte nos falar com voz profunda para, no fundo, nada nos dizer… A morte esconde-se nos relógios, na penumbra quase inteligível dos carrascos ponteiros. O único consolo é crer que esta terá mais segredos a revelar que a própria vida. Ou então esperar que, quando o derradeiro momento se aproximar, estejamos demasiado velhos e cansados para atingirmos a sua trágica dimensão. Memento mori. Be mindful of death. Consciencializa-te da tua morte.
1 comentário:
É difícil acreditar que há algo para além da morte...mas acreditar numa "inexistência para sempre" é demasiado sufocante!
Vivermos na eminência do momento derradeiro é um fardo demasiado pesado para carregarmos toda a vida.
É o medo do pós-vida (capaz de petrificar até a mais conformada das almas) que leva as mentes mais fracas a não serem capazes de confrontar este aterrador final do Ser, e, não sabendo suportar tal angustia, encontram amparo e consolação na existência de algo maior. Algo que nos comanda como marionetas, que nos traça um destino e nos faz percorre-lo no sentido que quiser, durante o tempo que entender, aliciando-nos apenas com a mera expectativa de vir a alcançar a felicidade eterna. E isto chega-nos para dar sentido à vida(!). Mas quem se contenta com uma expectativa?
E, por outro lado, quem consegue aceitar a dura realidade de viver só porque ainda nada sucedeu que lhe pusesse um fim? De se conformar com a ideia de ao pó retornar?
É esta a grande luta do Ser Humano: Deverá hipocritamente dar conforto à sua alma acreditando num Ente Superior e aguardar, com a serenidade de alguém a quem espera o paraíso, o dia do juízo final? Ou deverá aceitar-se como um mero aglomerado de nada, desgovernado no meio de outros tantos nadas…vivendo, criando os que dele virão, lutando por uma vida melhor, ambicionando um melhor emprego, buscando um amor que dure uma vida inteira…e resignar-se com a ideia de que no fim nada disto importou?
"memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris"
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