'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






27/01/2009

‘ (…) Foi por isso que, apenas a idade me permitiu sair da sujeição dos meus preceptores, deixei completamente o estudo das letras. E, resolvendo-me a não procurar mais outra ciência a não ser a que pudesse descobrir em mim próprio, ou então no grande livro do mundo, empreguei o resto da minha mocidade a viajar, a ver cortes e exércitos, a frequentar pessoas de diversos feitios e condições, a recolher diversas experiências, a experimentar-me a mim próprio no que a fortuna me propusesse, e por toda a parte a reflectir de tal maneira sobre as cousas que se apresentassem que delas pudesse retirar qualquer proveito.

Efectivamente, parecia-me que poderia encontrar muito mais verdade nos raciocínios que cada um faz sobre os assuntos que lhe interessam, e cujas consequências logo se sentem no caso de ter mal julgado, do que naqueles que, no seu gabinete, formula um homem de letras cujas especulações que não produzem efeito algum e que não têm para ele outra consequência a não ser a de aumentarem tanto mais a sua vaidade quanto mais afastadas estiverem do senso comum essas especulações, em virtude do muito espírito e artificio que têm de empregar para as tornar verosímeis. E em mim era sempre grande o desejo de aprender a distinguir o verdadeiro do falso, para ver claro nas minhas acções e caminhar com segurança na vida. (…)’

René Descartes, in Discurso do Método

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