'O homem vulgar, por muito dura que lhe seja a vida, tem pelo menos a felicidade de não a pensar.'


Bernardo Soares in Livro do Desassossego






24/12/2008

'and so this is Christmas...'


'Dói-me a cabeça e o Universo.'

18/12/2008

'(...) pretend you never went to school...'


She came from Greece she had a thirst for knowledge,
she studied sculpture at Saint Martin's College,
that's where I caught her eye.
She told me that her Dad was loaded,
I said "In that case I'll have a rum and coca-cola".
She said "Fine."
And in thirty seconds time she said:
"I want to live like common people,
I want to do whatever common people do,
I want to sleep with common people,
I want to sleep with common people,like you."
Well what else could I do?
I said: "I'll see what I can do."

I took her to a supermarket,
I don't know why but I had to start it somewhere,
so it started there.
I said: "Pretend you've got no money",
She just laughed and said: "Oh you're so funny!"
I said "Yeah?... Well I can't see anyone else smiling in here."
"Are you sure you want to live like common people,
you want to see whatever common people see,
you want to sleep with common people,
you want to sleep with common people, like me?"
But she didn't understand, she just smiled and held my hand.

Rent a flat above a shop,
Cut your hair and get a job,
Smoke some fags and play some pool,
Pretend you never went to school!
But still you'll never get it right,
Cause when you're laid in bed at night,
Watching roaches climb the wall,
If you call your Dad he could stop it all!

You'll never live like common people,
you'll never do what common people do,
you'll never fail like common people,
you'll never watch your life slide out of view,
and dance and drink and screw,
because there's nothing else to do.

Sing along with the common people,
sing along and it might just get you through,
laugh along with the common people,
laugh along even though they're laughing at you,
and the stupid things that you do,
because you think that poor is cool.

Like a dog lying in a corner
They will bite you and never warn you
"Look out!"

They'll tear your insides out
Cause everybody hates a tourist
Especially one who thinks it's all such a laugh
Yeah and the chip stain and grease will come out in the bath

You will never understand
How it feels to live your life
With no meaning or control
And with nowhere left to go.
You are amazed that they exist
And they burn so bright whilst you can only wonder why

Rent a flat above a shop,
Cut your hair and get a job,
Smoke some fags and play some pool,
Pretend you never went to school!
But still you'll never get it right
Cause when you're laid in bed at night
Watching roaches climb the wall
If you called your Dad he could stop it all, Yeah!

Never live like common people
Never do what common people do
Never fail like common people
Never watch your life .... slide out of view


And then dance, and drink, .... and screw
Because there's nothing else to do

I want to live with common people like you!

09/12/2008

...fool me twice, shame on you!

Longue vie à la bourgeoisie!’, bradou insolentemente Philipe Chesterfield em período convulso da história gaulesa, onde de entre a agitação social emergiam a passo os primeiríssimos traços duma esquerda totalitária, apropriadora, abolidora da propriedade. Chesterfield era uma peculiar figura da época: o francês mais britânico de França. Descendente da pequena burguesia de comércio, atingiu o restrito circuito da grande burguesia de capitais, tendo cultivado e mantido ao longo da vida os hábitos do país do qual o mar o separava. Bebia brandy em copos largos, fumava cachimbo, tomava sempre o chá das cinco e mandava os criados estrearem-lhe os fatos.

O que distingue Chesterfield do messiânico Obama? Este último surge como a grande salvação mundial, depois da maior diabolização da História feita a George W. Bush, por parte dos media, dos chefes de estado mundiais e, em última análise, por nós, o senso comum, mediante a consciencialização global da expiação de todos os males neste (conveniente) bode. Mas o que Bush representava eram os lobbies (do petróleo, do capitalismo selvagem, do grande capital), e como homem mediano que é, mais não soube fazer do que ser comandado por eles. O grau de desculpabilidade relativo a Bush será sempre, por força da sua inafastável mediocridade, infinitamente superior ao de Barack Obama, este oriundo das elites intelectuais norte-americanas, 44º presidente a quem é incutida a porventura mais difícil tarefa da breve história desse país: a constituição de um Estado Social de Direito. Menos não é admitido a uma democracia moderna e, agravadamente, a um presidente instruído com a formação de jurista em Harvard.

Mas no país mais rural do mundo, o povo massificado, gerador duma sociedade massificante (a insistência no termo é intencional uma vez que é a característica mais alienante a nível socio-cultural, no meu entendimento, por aniquilar a individualidade do ser), não permitirá nunca a inclusão de certos pilares sociais, pela etimológica aversão ignorante que guardam ao socialismo. A verdade é que este povo puritano e inepto não sabe distinguir a conotação estalinista do termo, obsoleta e enterradíssima (excepto na anedótica Cuba e na insignificante Albânia), da assepção europeísta, com carácter humanitário, onde o mercado continua a prevalecer embora com limites mínimos e óbvios, e da qual são corolários impreteríveis a acesso à Saúde, à Educação e à Segurança, e o combate aos efeitos mais flagrantes da pobreza. Já nada tem a ver com as concepções de Marx e Engels mas tão somente com solidariedade. Logo, só por força da mentecaptização do povo americano podem ser explicadas as caricatas e grotescas escolhas de Obama: Hillary Clinton para Secretária de Estado (que votou a favor da guerra no Iraque e que se demonstra ferozmente anti-iraniana), Timothy Geithner para o Tesouro, (um neoconservador que, como tal, rejeita toda e qualquer intervenção do Estado no mercado), Ralph Emannuel para Chefe de Gabinete (um extremista do proteccionismo do comércio e indústria norte-americanas, até agora tem cumprido o seu expediente na NAFTA), e Robert Gates, Secretário da Defesa da Administração Bush que Obama vai manter. O que o povo não percebe é que Obama acabou de nos bradar: ‘Longue Vie à la Grand Bourgeoisie, à concentração do capital e às multinacionais!’.

Parecem assim cada vez mais distantes as promessas de mudança (internas e externas) com que Obama inflamou os corações da ‘criadagem’, já amolecidos pela cor do candidato. Quanto a mim, mantenho-me céptico, no mesmo sítio onde me surgiu o desabafo que, umas horas depois, descarreguei no portátil: nesta fundação de madeira que irrompe pelo areal deserto do inverno, com a neblina da manhã a afastar os inconvenientes e massificados (lá está) veraneantes, com o meu sumo natural, os meus croissants e o meu jornal pela frente. Mas isso sou só eu, que odeio massas e integracionismos, euforias e soluções fáceis, e prefiro manter-me distante e frio, segregado do senso-comum, dissidente nos gostos e pensamento.

04/12/2008

Manifesto Autoscópico

O intelectual distingue-se pelo humor. Subtil, sarcástico, pretensioso. Frequentemente cínico. Distingue-se pela curiosidade e não pelo conhecimento – esse falacioso, facilmente adquirido por quem tenha tempo e móbil. Verbi gratia, um técnico de frio é certamente altamente qualificado em ares condicionados, um jurista em Direito, um talhante em carne, um médico em patologias, um psicólogo em comportamentalismo. Mas tal conhecimento na sua área e porventura noutras do seu interesse não os eleva ao estatuto do intelectualismo. Esse carrega o castigo da curiosidade. Ora alguém excepcionalmente curioso preencherá sempre as lacunas do que ainda não domina com a imaginação, com infinitas resoluções hipotéticas para o dilema com que se depara. Daí Einstein ter defendido que a imaginação é mais importante que o conhecimento, pois este é limitado, e a imaginação abarca o mundo.

Foi Auden que disse que ser-se livre (leia-se espiritualmente livre) é, com frequência, estar-se sozinho. Mas eu não quero subscrever as crenças de Vergílio Ferreira quando afirma que o destino do artista é o exílio; porém tenho que admitir que lhe parece obedecer como a um estranho mandato. Nada o intelectual deve trazer à rua; mesmo a sua vaidade é insignificante. E vive isolado porque é difícil acompanhá-lo, sendo o preço demasiado alto - quem caminhar a seu lado está condenado à ilimitude da condescendência. Mas é inevitável, no acatamento de uma condição, lembrar a ironia fatidicamente realista de Oscar Wilde, de que só há, na verdade, dois tipos de pessoas verdadeiramente fascinantes: as que sabem absolutamente de tudo, e as que não sabem rigorosamente nada.

Sinto tanto; penso demais. De forma que às vezes nem sei se o senti ou pensei, e o que senti e o que pensei. Foi pela convulsão de sentir e pensar e viver, que atingi a autoscopia, esgotante delírio de fuga minha a mim próprio, tendo chegado a juízo do que nunca julgarei. Assim sendo, é heteronimamente que te falo de seguida.

Agora ouves pretensiosamente Nick Cave e ostentas no metro os livros chatos que finges ler nos cafés. Os óculos deixaram de te diminuir e hoje usa-los às vezes como estilo pessoal. Passaste a fase dos nerds e dos radicais e da auto-afirmação. Aparentemente, a pirâmide social já não te empolga. Porque pensas que és tão melhor que os outros, e já fizeste tudo o que eles fazem, e já atingiste tudo o que procuram. Já mais nada aquele mundo tem para te oferecer que não tenhas conseguido. Os teus amigos parecem-te todos iguais, a andar em círculos ano após ano. As ambições dos que te rodeiam são, simplesmente, provincianas. Os seus sonhos tacanhos. Desististe de emendar os traços simplistas dos demais, e noto que falas cada vez menos. Até o dinheiro (!) te parece mais pequeno que outrora. Vejo-te a olhar para o visual cinzento e indiferente de Jarvis Cocker da mesma forma que olhavas há anos atrás para o Sean Virtue.

Ah!... que pessoa detestável é que acha que os ingleses – povo tenebrosamente frio – são paradigma para tudo? (quando gostas de algo, gostas tanto que me enjoa – estou farto de ti!). A polidez, a sobriedade e o corte das roupas, o tom altivo, a resposta displicente, o trato entre as pessoas, o cinismo. Adoras blazers e tweeds e berloques e botões-de-punho. No teu entendimento obsessivo, qualquer conterrâneo teu se veste mal. ‘Nem tanto à terra, nem tanto ao mar’, dizes - com o sarcasmo alteando-te os lábios, e esse acento arrogante que não sabes esconder - utilizando condescendentemente um ditado popular – que tanto odeias! - (como se Sua Divindade falasse com a gente vulgar na sua linguagem), para criticar aqueles que usam os fatos impecavelmente assentes, estaticamente empertigados e saloisticamente vaidosos, ou os que abusaram do negligé, demasiadamente relaxados e consequentemente sujos. Naturalmente, só tu és dono do meio-termo.

Tens o transtorno do filho único? Gira tudo em teu redor: os pais, os amigos, as de género oposto que minimalista e redutoramente designas por ‘gatas’, os colegas, o trabalho… se alguém te sorriu, cortês, é porque lhe fizeste valer o dia. Qualquer acto teu para com os outros é uma concessão. Adoras os outros enquanto lhes permites o benefício supremo da tua simpatia indulgente. Adora-los enquanto te veneram, reverentes. És narcisista e querias-te multiplicar num espelho! (Isso parece-me mais transviante do ponto de vista sexual do que mero egocentrismo absurdo). És obcecado pela vida saudável; quererás viver para sempre? Porquê tanta fruta, e sopa, e exercícios, e suor? - Leste algures que as toxinas são expelidas pela transpiração; e que o chá e o café são antioxidantes - Mas por que raio não deixas pelo menos alguns radicais-livres correrem-te pelas células? Talvez ganhasses cara de homem, pelo menos.

As mulheres ofertosamente enfeitadas já não te estimulam. Descobriste, tantos anos depois, que a beleza é o cruzamento entre o olhar e o entendimento. É a perfeita harmonia entre o olhar que busca e a mente que encontra. E que – tal como Deus – está nos pormenores. Sempre adoraste, admito, uma beleza natural, ‘beleza arrancada ao sono’. Relembro-o e relembras-me quando escreves. Mas agora pareces deleitar-te com a imunda negligência da mulher que lê despenteada numa esplanada, com os óculos descontraidamente na ponta do nariz, quase deitada sobre duas cadeiras, relaxadamente abstraída, tão idílica quão enigmática, que nem repara em ti porque bronze e corpo definido têm os pedreiros, e Fred Perry’s é apenas uma insígnia, e um BMW é só um carro.

E aí talvez te apercebas que um intelectual não o admite nem se revê nessa concepção, e muito menos se adora frente a um espelho, e não tem esse ego que te mata (ou te há-de matar). E que um filósofo não escreve somente sobre si e sobre a sua dor. E que um artista para o ser tem que atingir um grau de distanciamento quase exilante, um estado de migração das emoções e vaidades que tu, mero amante – porque é o que és – jamais obterás. O artista imita a vida. Tu vive-la. E por muito diferentes que sejam as formas de agora o fazeres, sabes que só o vento, e com ele as moscas, podem mudar.

03/12/2008

A Mulher no Tempo e Espaço

Mulheres. No singular para mim, mas isso depende de cada um. Centro do universo, convergência da espiral, raiz profunda no órgão que revivalisticamente bate mais forte. Luz e obra-prima à escala universal.

Mulheres. As que me agradam não constam de nenhum catálogo objectivador das mesmas, FHM's e Maxmen's, Gina's cosmopolitizadas, onde as espécimes são ordeiramente alinhadas pelo tamanho das mamas e dos rabos que não me enganam; onde se expõem de forma camufladamente erótica, mas honrosamente pornográfica, emagrecendo a fantasia, que acaba por se desvanecer, com o folhear das páginas cruas e castradoras de emoções, carnais e passageiras. Com a facilidade com que esgotámos a mulher que vendeu a dignidade nas páginas 4, 6, 7 e 8, procuramos, numa irrealidade sucedânea, a que se despe nas páginas mais à frente. Assim, despidos de romantismo, transpomos para a vida este imediatismo sexual, com a descartibilidade de parceiros e a fisicalidade que horrivelmente o caracterizam.

Desprezo as Carolinas Patrocínios deste mundo, imaginações limitadas em corpos de 19 anos que não são eternos, de sorriso plastificado e olhar vazio, divindades desta Era iconoclasta, onde as massas (estúpidas, numa acepção churchilliana) são servos e senhores ao mesmo tempo, adorando o que lhes é imposto, impondo o que adoram. Ou as Soraias Chaves dos filmes que eu não vi, corpos de prostitutas em caras de saloias, que se pornotraficam e se tornam estrelas de cinema, sob a direcção de cinéfilos beirões, comentadores desportivos num qualquer programa semanal.

As mulheres, por sua vez, envergando a bandeira dum feminismo póstumo ao dos movimentos pela igualdade civil dos anos 60 (que defendo incondicionalmente), camufladas por um neo-sufragismo justificador cuja demanda é tornarem-se os “homens” da actualidade, desrespeitam-se mais agora do que em qualquer outro momento da História. Homens e mulheres extinguiram o pudor, aquele que, quanto a mim, é das mais sedutoras características da insustentável leveza do ser feminino. As mulheres aniquilaram-no como forma de se equipararem aos homens - sem se aperceberem que nós (leia-se o “homem médio”) sempre fomos o sexo fraco e limítrofe da fronteira humana/animal. Os homens não o extinguiram, apenas o abandonaram involuntariamente porque, como sexo fraco, não conseguem impor a razão à vontade perante um corpo semi-despido ou resistir à gratuitidade do sexo, fortuito e impessoal. O Homem é, historicamente, um derrotado da libido. Numa clara aceitação bovina, as hostes masculinas curvam-se todos os dias perante as elites femininas, assistindo à ascensão dum império construído não sob o suor ou sangue, mas sobre a sua racionalidade passiva.

Quanto a mim, talvez o meu reino não seja deste mundo. Não o é pois não me consigo abstrair da melodiosa métrica do cortejo, nem do romance que me embala os dias, ritmando cada momento. Não o é porque trato uma mulher como uma mulher, não lhes passo à frente nas portas nem subo escadas atrás delas. Não o é pois não me rendo à plasticidade das interacções com o sexo oposto. Não o é porque gosto da prodigiosa ilimitude da imaginação quando fantasio com o momento em que a vejo nua, na recatez de um quarto, mostrando-me sítios só meus, onde só eu posso ir, correndo e suando lado a lado em momentos onde almas e sonhos se cruzam, onde mesmo quando é mau é bom.

Mulher; não tenho espaço para o plural. Se algum dia caí na gratuitidade relacional é por ser um refugiado do sentimento, vivendo no exílio do destino. Mas alguns anos depois, naquela noite alentejana de Agosto, sozinho apesar de rodeado de amigos, entendi finalmente o que David Gahan repetia no refrão que o celebrizou. Tarde demais.

Ao contrário dos meus congéneres, não vibro com grandes mamas nem rabos fantásticos, mas enlouqueço com peles brancas e lisas. Não me iludo com coxas de ginásio nem barrigas tonificadas, mas adoro cabelos e sobrancelhas naturais, rostos sem maquilhagem, cinturas magras, mãos e pés delicados, feições finas, lábios pequenos. Bela, sem efeitos, de uma beleza que acaba de se arrancar ao sono. Não quero vê-la a arranjar-se ou a pentear-se! - é como um mágico explicar os seus truques.

Sou um fascinado da graciosidade feminina. A mulher flutua, hesita, flutua, hesita. Apaixono-me com o pegar duma chávena e o percurso que lhe distancia a mão da boca, o afunilar dos lábios enquanto absorve, o pousar insonoro da chávena. Sentada, observo-lhe a postura, a simetria dos ombros, a inseparação das pernas. Levanta-se e o meu olhar segue-a num caminhar felino, cruzando subtilmente os calcanhares, revelando um bambolear algo infantil. Rendo-me quando vejo a menina que se esconde dentro da mulher independente, autónoma, segura, mas que se entrega à ternura e à protecção de um abraço. “Fragilidade, o teu nome é Mulher”!

O meu reino não é deste mundo. Talvez. Ou talvez tudo isto sejam apenas comparações.

20/11/2008

Pulp - Disco 2000 (Different Class, 1995)

É inegável o revivalismo que sinto quando agora busco as origens do britrock ou britpop, movimento oriundo do underground londrino pertencente a um certo intelectualismo diletante, inescapavelmente niilista, correspondendo à moderna concepção de dandismo, desenquadradamente adaptados, relaxadamente alinhados, apontando o ridículo do normal, vaporando uma excentricidade moderada (ou irreverência disciplinada - os ingleses têm a palavra certa, kookiness), exaltando a distinção do indíviduo da multidão.
Ícones do ínicio como Pulp ou Suede, que recentemente voltei a procurar, fizeram-me reviver alguns sons eu ouvia já na pré-adolescência, como esta que aqui proponho. Sonoridade quase ejaculatória, letra e história simples (como em tudo o que é genial), e um vídeo de uma métrica clean e algo retro, glamoroso q.b..
Well we were born within one hour of each other.
Our mothers said we could be sister and brother.
Your name is Deborah... Deborah...
It never suited you...
Oh and they thought that when we grew up,
We'd get married, and never split up.
Oh we never did it... although often I thought of it...

Oh Deborah, do you recall? Your house was very small,
With wood chip on the wall. When I came around to call, you didnt notice me at all
So I said: Let's all meet up in the year 2000! Wont it be strange when were all fully grown?
Be there at 2 o'clock by the fountain down the road!
I never knew that youd get married... I would be living down here on my own
On that damp and lonely thursday years ago!

You were the first girl at school to get breasts,
And Martyn said that yours were the best!
Oh the boys all loved you but I was a mess...
I had to watch them trying to get you undressed.
We were friends, but that was as far as it went,
I used to walk you home sometimes but it meant,
Oh it meant nothing to you, 'cos you were so... popular

17/11/2008

Blur - The Story of the Charmless Man


I met him in a crowded room
Where people go to drink away their gloom
He sat me down and so began
The story of a charmless man

Educated the expensive way
He knows his claret from his beaujolais
I think he'd like to have been Ronnie Kray
But then Nature didnt make him that way...

He thinks his educated airs, those family shares,
Will protect him... that we'll respect him
He moves in circles of friends, who just pretend
That they like him; and he does the same to them
And when you put it all together:
Theres the model of a charmless man

He knows the swingers and their cavalry,
Says he can get in anywhere for free...
I began to go a little cross-eyed
And from this charmless man I just had to hide

He talks at speed, he gets nose bleed
He doesnt see his days are tumbling
Down upon him
And yet he tries so hard to please
Hes just so keen for you to listen
But no-ones listening
And when you put it all together:
Theres the model of a charmless man

'(...) O século globalizado já viu duas guerras mundiais de valores. Há vinte anos ainda se lutavam as últimas campanhas do primeiro embate civilizacional mundial, que começara cem anos antes. Tratava-se então de defender a empresa e o mercado contra ataques da sociedade socialista e economia planificada. Como agora, os agressores tinham a certeza de estar com o futuro, o que lhes dava uma raiva e arrogância imparáveis.

Hoje, os mais jovens não conseguem acreditar que ainda nos anos 1970 e 80 as visões marxistas não só eram activas mas consideravam-se a única alternativa razoável. Para os "progressistas" de então, não se tratava de um embate de ideias, mas da luta entre o futuro em ascensão e o passado bafiento, entre defensores da modernidade e cadáveres ideológicos que se desconheciam como tal. Hoje sabemos afinal que cadáveres eram os comunistas. Alguns poucos ainda mexem mas já não defendem nada. Limitam-se a atacar tudo. Saem do túmulo para bramar nas crises. (...)'

João César das Neves, DN 2008.11.17

10/11/2008

Triologia do Desalento – Parte II (escrito em 2008-09-16)

A vida é cor, é luz, é alegria, é movimento. E eu – numa palavra – sou apenas desalento. (…)’.
Jorge Fernando, Fado do Desalento

Odeio frequentemente a pessoa que sou. E sou um milhão de pessoas diferentes de um dia para o outro. Intelectualmente pedante, ofendo, debocho e ataco para, não raramente, mais tarde me contorcer com remorsos; a efemeridade das resoluções que tomo revelam-me que não tenho o mínimo sentido de mim. O meu medo primitivo é ser aquele que tento mudar, imutável, escrupulosamente imune. Temendo o sofrimento, sofro já aquilo que temo.

Mais do que a minha filosofia, mais do que o que escrevo, sou aquilo de que me tento libertar quando o faço. Sou os meus demónios – que tento exorcizar quando escrevo. Porque – tal como Eça – também creio que as cartas de um homem, sendo o produto quente e vibrante da sua vida, contêm mais verdade que a sua filosofia, que é apenas a criação impessoal do seu espírito. Uma vida que se confessa é objecto maior do intelectualismo, é a mais pura realidade humana: crua e egoísta, cheia de amor e de dor, saudade e orgulho.

A vida é um conjunto de acasos que se cruzam a que chamamos destino. O busílis da questão reside agora na dúvida da existência de um plano divinamente prévio, ou não passará tudo duma desordeira desilusão? Qual é a vida e qual é a morte, e qual delas vivo eu agora? Vivo: epifania gramatical do indicativo: eureka da minha prosa.

À escala do relógio solar, tomando como referência para a idade do planeta as vinte e quatro horas diárias, a passagem do Homem pela Terra só dura ainda há um segundo. A relatividade da nossa existência é arrebatadora. E depois de mim? O vácuo existente para além, o nada completo, a demoníaca paz. A resposta é titânica, a uma escala que não compreendemos. Não raramente tenho medo de descobrir a minha real índole; medo do meu destino ser bem maior que eu. Como posso eu morrer se correm por mim como rios tantas ideias, dúvidas, teorias, ânsias; extinguir-se-á com a morte toda a minha curiosidade, todo o meu infinito amor?

O que somos e a preponderância do nosso cunho na existência universal é irrisória. Nada do que eu faça significa. Só me resta o que eu sei e o que eu sinto agora. O eterno pensamento e o inacabável amor. Tudo mais são pormenores, rabiscos floreados num canto da breve sebenta que regista o sucedido entre o parto e o óbito. Resta-me a vontade e o consolo de fazer-lhe milhões de filhos, e em cada um deles amar um bocadinho dela. Porque nada mais somos senão efémeros. A nossa insignificância relativista é abismal. Qualquer coisa que alguém faça, por melhor ou pior que seja, é brutalmente indiferente. A impunidade não mais é senão inglória.

09/11/2008

OOOOOOooooohhhhhhhhhh it seems forever stoped today

all the lonely hearts in London caught a plain and flew away

03/11/2008

Vergílio Ferreira/ Norman Rockwell

'Não és um homem normal. Isso te é uma inferioridade (ou uma superioridade?). Como em tudo o que é diferente. Cultiva a tua diferença. Mas uma diferença pode ser negativa. Esse o teu drama. Porque a tua diferença vai além e fica aquém dos outros. Tu querias ser os outros no em que lhes és inferior e ser diferente no em que lhes és superior. Mas toda a superioridade se paga. Paga e não bufes.'
in 'Conta-Corrente 1'


'Nada ultrapassa o orgulho do rapaz que contempla a sua namorada, vestidos ambos a rigor para o baile, enquanto o homem do bar cheira deliciado a enorme flor que ela tem no vestido (After the Prom, Post, 25/Mai/1957). A maior parte dos artistas do século XX dedicaram-se a contemplar o demónio. Era fácil vê-lo então. No meio do horror, Rockwell preferiu ver Deus. Procurou-o num dos locais onde Ele gosta mais de estar: o próximo, através do dom divino da simpatia.'
João César das Neves, DN, 2008-11-03

30/10/2008

27/10/2008

To Write

The past of a messed up existence shall prevail on the way I write and feel, so I assume that some displicence, pride and prejudice are, somehow, part of an inviolated character. Although, I do show some respect to few, a few ones who are a lot on my peculiar scale. Certainly, English people including: role model of sobriety and manners; guide from any gentleman or lady along; cradle of public spirit.

A perfect gentleman should speak and write distinguished English. And this is not only my stand point - but the set of beliefs of Mr. Oscar Wilde, the same one who, in his grave of dead, layed out on a rented room which he couldn’t pay, digged on agony those which were, probably, his last words: “I die the same way I lived, much above my possibilities”.
Despite of still remaining writing on my mother language, I’ll start now, smoothly, without haste, to make my thoughts ephemeral, consecrated on paper eternally on the 'gentlemen speech'.

As I've been inspired by some of the socratic teachings, I know I don’t know much, however I have a few certainties in life until now:
1- The taste for an refined dandier existence, gathering with the pleasure and vice of thinking;
2- That kind of infinite certain which would make me tattoo every letter of her name on my arm or on my chest (me, who have always hated and absolutely scorn this type of 'native body embellishment');
3- And, finally, an inveterate and innate tendency for vanity, sometimes, from which I can't release myself. Consequently, I was no surprised when I totally reviewed myself in this lyrics I listened in the radio, one of these days. But even here, on my maxim absurdity, I can justify my own, arguing that mocking ourselves it’s a sarcastic, ironic reflex, only understood by few ones.

22/10/2008

'Look in the orient when the gracious light
Lifts up his burning head, each under eye
Doth homage to his new-appearing sight,
Serving with looks his sacred majesty;
And having climbed the steep-up heavenly hill,
Resembling strong youth in his middle age,
Yet mortal looks adore his beauty still,
Attending on his golden pilgrimage:
But when from highmost pitch, with weary car,
Like feeble age, he reeleth from the day,
The eyes, 'fore duteous, now converted are
From his low tract, and look another way:
So though, thyself outgoing in thy noon
Unlooked YOU will die unless you get a son.
'


William Shakespeare, Sonnet VII

14/10/2008

um pequeno aparte...

Da universalidade de inquirições e contestações de trivialidades que me são inerentes em razão do observadorismo extremo de que padeço, a condição patética do homem (homem e não Homem) surge-me porventura como das mais revoltantes visto tratar-se duma característica de género, que eu venha, tenha ou partilhe.
A minha colega de gabinete, mostrava-me agora mensagens de hi5 (antro de superficialidades revitalizadoras de egos, poço de Photoshop e manipulação de imagens, premonição ainda mais flagrante do momento decrépito da sociedade do que aquele novo programa da Teresa Guilherme), mensagens dum seu amigo(!) que aproveitava as novas tecnologias para iniciar o seu (primitivo) ritual de acasalamento, e a quem ela ridicularizava, lendo entre risos as deixas que o infeliz deixara como comentário às suas fotos sorridentes, e a sua réplica fria e seca, tornada pública a quem quer que consulte o seu perfil. O facto de eu conhecer o infeliz, que estratégica e honrosamente ocultei, fez-me despender cinco minutos do meu tempo para desabafar com o teclado.

A verdade, despida, sincera, é que temo tremendamente a subserviência da corte do homem. O curvar galante, submisso, inseguro, cheio de piadas fáceis e mornas (por conseguinte, estúpidas) politicamente correctas – não se vá ferir alguma susceptibilidade! – afigura-se perante mim como a mais patética condição masculina, a par com o suplício. Só o gatinhar comiserante perante a divindade feminina, soberba e toda-poderosa, precocemente emancipada (porque está, inegavelmente, no período de infância do seu estágio de igualização) pode ser tão ridiculamente redutor como o acto de implorar.

Depois de tantos anos duma condenável hegemonia masculina, corre-se agora o risco da tirânica ditadura feminina: crua, fria, impiedosa. É por isso que não corro atrás de mini-saias nem de mulheres de olhar errático nas discotecas. É por isso que nem sequer mudo de direcção se avisto alguma. Se o fizesse seria para tentar perceber carácteres enigmáticos, desafiantes para o meu modo subversivo. Mas de cada vez que agora lhes procuro o elemento transcendente captativo da minha atenção e devoção, sou ofuscado com batons berrantes, blush exagerado, unhas encarnadas, sandálias vistosas e malas espampanantes. Talvez a culpa seja minha, talvez sejam vítimas duma fácil descodificação, por força da minha tendência de tudo reduzir a estereótipos e generalizações...

13/10/2008

"A actual crise financeira tem multiplicado as reflexões de fundo sobre o sistema capitalista. Na maioria elas seguem uma teoria conspirativa, variante da luta de classes: existe uma elite que não só costuma explorar a massa do povo mas ainda gera estas terríveis convulsões com as suas imprudências. Tais ideias têm muito de verdade. São evidentes as fraudes, erros, crimes. Mas o mais dramático e curioso é que a crise não precisava disso para surgir. Ela pode acontecer mesmo sem qualquer falha, porque provém da natureza íntima do capitalismo.

A essência do nosso sistema económico é a liberdade de iniciativa. Cada um pode apresentar no mercado os produtos que quiser e, se forem preferidos pelos clientes, terá sucesso e prosperidade. Foi este sistema que gerou o incrível desenvolvimento da humanidade nos últimos dois séculos. Mas é também este mecanismo de experiência e tentativa, risco e atrevimento, que cria a instabilidade latente e recorrente na nossa vida. O tumulto não é acidente fortuito, mas elemento nuclear. Pode dizer-se que o capitalismo só floresce à beira do abismo.

O progresso nunca é ordeiro, calmo, planeado, mas uma permanente convulsão de criatividade e empreendimentos. Os sucessos são sobreviventes de muitas ideias que, apesar de boas e originais, ficaram pelo caminho. A coisa até corre mal mesmo quando corre bem.

Ainda alguém se lembra do Lisa, o computador que a Apple lançou em Janeiro de 1983? Era uma máquina impressionante, revolucionária, com novidades que perduram como o "rato", memória virtual, processamento múltiplo. Só que o pobre Lisa ficou na sombra do seu sucessor, o Apple Macintosh de Janeiro de 1984, que, esse sim, estabeleceu um padrão duradouro na tecnologia. Os desgraçados que compraram o Apple Lisa adquiriram um produto excelente mas logo obsoleto. São eles as vítimas do progresso.

Em grande medida é isso que está a acontecer no sector financeiro.

(...)

A este fenómeno têm de se juntar os elementos específicos do sector financeiro. Nas finanças lida-se directamente com moeda, que é uma responsabilidade directa do Estado. (...) Todas as instituições financeiras funcionam numa espécie de concessão pública. O Estado mantém-se o garante último do sistema monetário e tem poder absoluto sobre ele.

Por isso as recentes intervenções governamentais não são socialismo, keynesianismo, ou sequer intervencionismo. São do mais estrito e autêntico monetarismo. Foi Milton Friedman, supremo neoliberal, quem recomendou estas políticas para tratar crises deste tipo.

(...)

A raiva visceral de tantos à sociedade contemporânea tem aqui a sua justificação iniludível. Vivemos num mundo de prosperidade incomparável. Existe desigualdade, como sempre, mas muitos ganhos na medicina, comunicação, cultura e conforto até aos pobres beneficiam. Já nos esquecemos da terrível miséria antiga. Mas ao mesmo tempo experimentamos um clima ímpar de incerteza e instabilidade que nos assusta. Por isso, no meio dos benefícios, tantos se irritam e protestam. Só que abandonar o sistema por causa desses custos seria tão tonto como se o desgraçado que comprou o Lisa desistisse de usar computadores."

12/10/2008

09/10/2008

'Aquele que controla os outros tem força, mas aquele que se controla a si próprio tem o verdadeiro poder.'